segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Combate ao racismo

UNE defende cotas raciais nas universidades

No blog UNE combate ao racismo, diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) Clédisson Júnior defende as cotas raciais nas universidades ressaltando a relação das desigualdades raciais com a estruturação de classes da nossa sociedade. Leia o texto na íntegra abaixo.




Porque defendemos cotas raciais

O racismo no Brasil

Para compreendermos o processo de formação da sociedade brasileira é fundamental entendermos que o racismo foi ideologia fundamental para a manutenção do Estado que se pretendia formar, isto é, não ocorre processo colonialista sem racismo.

O racismo sempre foi instrumento fundamental para manter a dominação, subjugando a todos que estão sob esse véu. O racismo como uma forma ideológica, é resultado da epistemologia européia a serviço da dominação sobre os outros povos.

O racismo como o vivenciamos dia a dia é um conjunto de ações e intenções que marcam as relações sociais entre os indivíduos que tem em sua fundamentação a superioridade de uma raça (branca) em detrimento de outra (negra e/ou indígena, etc).

É importante destacarmos que o contexto raça usado para fundamentar a nossa discussão é apresentada na perspectiva sociológica, ou seja, que raça existe em nossa contemporaneidade e é fruto de um conjunto complexo de fatores culturais e históricos, que sim foi balizador e critério para configurar a divisão social do trabalho no período colonial e nas ocupações dos diversos espaços de direção e poder de nossa sociedade.

As desigualdades raciais existentes em nosso país têm em suas bases uma estreita relação com a estruturação em classes de nossa sociedade.

Em uma sociedade regida por uma democracia liberal,amparada em preceitos burgueses, o preconceito racial,cumpre novas funções e ganha novas formas de aplicação, ainda mais eficientes no intuito de manter negras e negros fora dos espaços de formação e conhecimento que possam garantir algum tipo de ascensão social.

O negro e a negra na universidade brasileira

Atualmente o acesso a universidade publica se dá por meio de um processo de seleção a qual a maioria esmagadora dos aprovados são estudantes egressos de escolas privadas ou dês estudantes que possuem recursos necessários para o custeio de cursos preparatórios ao exame de admissão.

Como sabemos a população negra é a maioria esmagadora da população pobre e/ou miserável de nosso país, o que cria uma dinâmica de inversão proporcional no processo de inclusão no ensino superior publico no Brasil.

Defender a presença cada vez maior e efetiva de negros e negras na universidade publica brasileira pára nós é positiva, imprescindível e estratégica para combater o racismo e fortalecer o processo democrático.

O sistema educacional, políticas curriculares e bases teóricas que fundamentam a produção cientifica no Brasil, são construídas a partir de bases e referencias eurocentradas, não respeitando a diversidade étnica que compõe a realidade da população brasileira.


Políticas de cotas raciais

Nos últimos anos é intensa a discussão acerca da emergência da aplicação de políticas de ações afirmativas na educação superior brasileira. Tais discussões visam reparar aspectos discriminatórios que impedem o acesso de pessoas as maiores “sorte” de oportunidades

Para nós do movimento negro a importância dada às ações afirmativas em principal a políticas de cotas raciais nas universidades publicas é instrumento estratégico para alterarmos o estado das coisas, na sociedade racista em que vivemos. Pressionar o poder publico a fim de aprovarmos esta política como parte integrante do texto constitucional vem sendo tarefa de todos nós, negras e negros conseqüentes.

Não somos alheios de que a igualdade formal, tão cara a concepção de Estado moderno, que visa consagrar a igualdade de todos e todas perante a lei, não é aplicado em sua acepção pratica, não correspondendo com o real sentido de sua existência.

Apresentar perspectivas que apontem para as políticas de cotas raciais, teor de inconstitucionalidade, reforça cada vez mais as criticas e questionamentos que nós dirigimos ao conceito de igualdade apresentada e defendida pela democracia liberal.

Quando observamos a constituição federal em seu artigo terceiro, a qual é alencando os objetivos da republica, tais como a construção de uma sociedade livre, justa e solidaria a garantia do desenvolvimento, a erradicação da pobreza e a promoção do bem para todos e todas sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outra forma de discriminação, podemos ver o quanto as políticas de cotas raciais para ingresso nas universidades publicas, possui forte conteúdo democrático e amplo apelo constitucional.

É preciso enegrecer a universidade

É papel da universidade fomentar a importante e indissociável articulação entre o ensino a pesquisa e a extensão, exigência intrínseca para a constituição de um centro de ensino que de fato exerça a sua função que é de produzir, conhecimento, tecnologia de fato uteis para a sociedade brasileira.

Uma universidade que aliado a pratica pedagógica, a produção do conhecimento cientifico, não se ater ao novo momento histórico que vivemos, diferente e desafiador e que cada vez mais reclama para si a busca pelo fortalecimento da democracia, não terá êxito na sua missão de transformação e contribuição para a instauração de uma nova consciência e fortalecimento da cidadania.

Assim como é importante a inclusão dos negros e negras nos bancos escolares do ensino superior, também se faz necessário e imprescindível para a universidade a presença e permanência destes.

A efetiva e militante presença dos negros e negras na universidade publica garantirá um redirecionamento no processo de produção cientifica, na elaboração de matrizes curriculares democráticas e em um processo extensionista cada vez mais comprometido com a promoção da classe trabalhadora.

Uma revolução nada silenciosa

Em um momento futuro, a ocupação quantitativa que queremos promover ao defender a políticas de cotas raciais nas universidades publicas se reverberá em uma maior participação dos negros e negras nos espaços de tomada de decisão e conseqüentemente na definição de rumos verdadeiramente democráticos e republicanos para a sociedade brasileira.

Tal engajamento nos instrumentaliza para a verdadeira disputa que enfrentamos cotidianamente desde o dia em que nascemos, aonde o combate sistêmico ao racismo é central na estratégia por uma sociedade solidaria, justa e democrática.

A luta dos negros e das negras ainda que por inúmeras tentativas não foram suprimidas, o processo de resistência a cada dia se torna mais forte e mobilizado.

Defender em alto e bom som a política de cotas raciais nas universidades publicas é trazer a tona em todo o Brasil, que ele é um país racista. A defesa das cotas é carregada de forte simbolismo, visando quebrar com uma dinâmica de manutenção do poder sustentado pelo mito da democracia racial.

Para que de fato possamos superar as distorções sociais gestadas pelos ideais racistas, é necessário compreende-lo para que a sua superação seja de fato definitiva. Este processo de compreensão nos traz a luz do conhecimento a relação dialética entre as lutas raciais e a luta de classes.



Clédisson Júnior é diretor de Combate ao Racismo da UNE

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Calendário de janeiro

Agenda cheia para movimentos sociais em janeiro

10º Fórum Social Mundial descentralizado; 1ª Feira Mundial de Economia Solidária em Santa Maria/RS; e 3º Encontro Nacional de Hip Hop em São Vicente/SP. Juventude, trabalhadores, movimentos sociais contra-hegemônicos construindo "um outro mundo possível".




O mês de janeiro está repleto de atividades importantes para quem luta por "um outro mundo possível". Na Grande Porto Alegre/RS, Salvador/BA, no Rio de Janeiro/RJ, em Madri (Espanha), na República Tcheca, Santa Maria/RS e São Vicente/SP serão palco de atividades que apesar de diferentes entre si, carregam características comuns: são atividades protagonizadas por jovens e trabalhadores que procuram coletivamente construir alternativas ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.


10º Fórum Social Mundial: desafios e propostas para um outro mundo possível

10 anos depois de sua criação, o Fórum Social Mundial realizará atividades descentralizadas pelo Brasil e pelo mundo, na grande Porto Alegre/RS, Salvador/BA, Madri (Espanha), Benin, República Tcheca, entre outros. Em todos esses locais, a ideia é pensar os desafios e proposta para um ouro mundo possível.

Vale destacar uma dessas atividades, que se dará na grande Porto Alegre, cidade onde ocorreu a primeira edição do Fórum. Estão previstas atividades nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo Bom e Sapiranga. A juventude será grande protagonista desse fórum, sendo que vários movimentos juvenis estão organizando o Acampamento Intercontinental da Juventude que ocorrerá entre os dias 23 e 29 de janeiro, na Sociedade Gaúcha Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Neste acampamento, um intenso conjunto de atividades estão previstas em espaços temáticos que debaterão a avaliação do Fórum, promoverão atividades culturais, integração com a comunidade de Novo Hamburgo, debates sobre ecologia, economia popular solidária, cultura de rua, democratização da comunicação, entre outros temas de interesse da juventude. Mais informações sobre o Acampamento Intercontinental da Juventude são encontradas clicando aqui.


1ª Feira Mundial de Economia Solidária: 150 mil pessoas são esperadas em Santa Maria/RS

Santa Maria, que é considerada a acapital da economia popular solidária, será sede do 1º Fórum Mundial do tema entre os dias 22 e 24 de janeiro. A atividade celebra os 10 anos do Fórum Social Mundial debatendo as conquistas obtidas pelos trabalhadores na construção de uma outra economia, alternativa ao capital financeiro, que segundo os organizadores, já acontece. Conforme a coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança, Irmã Lourdes Dill, diversas caravanas de outros estados brasileiros já estão confirmadas, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além de cerca de 15 representantes do continente africano, que já asseguraram presença. A expectativa da organização é de que aproximadamente 150 mil pessoas participem das atividades. A artista e militante do movimento hip hop Flavinha informa que o movimento participará do Fórum, lançando o segundo CD da União Santa-Mariense de Rua (USR), como alternativa concreta de geração de trabalho e renda para os artistas da periferia da cidade. Mais informações sobre o Fórum podem ser obtidas clicando aqui.

3º Encontro Nacional de Hip Hop: um mergulho na História

São Vicente (SP) vai se tornar entre os dias 28 a 31 de janeiro de 2010 a "capital do hip-hop". Segundo os organizadores do evento, a cidade reune as melhores condições para a atividade, que ocorrerá na cidade praiana durante o verão. Além disso São Vicente é um património histórico nacional, pois é a primeira cidade do país, no qual o encontro terá como tema: "Hip-Hop um mergulho na historia". Mais de mil pessoas são esperadas no evento, que contará com a participação de grupos como Face da Morte e Rappin Hood. O hip hop de Santa Maria/RS participará do encontro, é o que garante o rapper Nêgo Lula, presidente municipal da Nação Hip Hop, que está procurando levantar recursos com sindicatos, movimentos e poder público para que uma delegação da cidade possa ir ao evento. A Nação Hip Hop Brasil pretende levar um ônibus do RS ao Encontro, segundo o presidente estadual da organização, White Jay, que afirma ser esse encontro uma oportunidade única para quem enxerga no hip hop um instrumento de tranformação da realidade da juventude da periferia. Mais informações podem ser obtidas aqui.

Fonte:
http://fsm10.procempa.com.br/wordpress/
http://estudanters.blogspot.com/
http://www.forumsocialmundial.org.br/
http://fsmecosol.org.br/
http://www.nacaohiphopbrasil.com/index.php
http://mergulhonahistoria.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Brasil

Lula e o Boris Casoy: Brasil*


No dia 31 de dezembro, Boris Casoy, âncora do Jornal da Band, durante a vinheta de abertura do programa, sem perceber que o áudio estava aberto, fez o seguinte comentário: "Que merda... dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho..”. Isso após o jornalismo da Band, ter colocado no ar as figuras simples e humildes de dois garis que desejavam a todo o Brasil um Feliz Ano Novo, com saúde, paz, dinheiro e felicidades”. Ao fundo se ouvia risadas, talvez dos seus colegas de jornalismo.O blog Igor de fato reproduz o artigo da deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB/RS) comentando o fato.

VEJA O VÍDEO DA GAFE DO BORIS CASOY CLICANDO AQUI.

Qual a relação entre o filme "Lula, o filho do Brasil" e fato que envolve o jornalista Boris Casoy, amplamente divulgado pela internet na semana que passou? Ouso responder: são duas faces de um mesmo Brasil.

Assisti ao filme que conta a vida do Presidente no primeiro dia do ano. É uma super produção. Esquisito que não o achei uma tentativa de endeusar a Lula. Por que? Porque mostra um homem comum, com uma história como a de milhares de brasileiros (que vão para os grandes centros atrás de melhores condições de vida, que assistem, quando crianças, aos pais agredirem fisicamente as mães, que se emocionam quando têm o primeiro emprego e choram diante da morte da mulher amada). Um homem que até uma idade razoável considerava o futebol mais importante do que a política e que quando ingressou no sindicato tinha como meta falar a língua de seus iguais e cuidar dos benefícios imediatos dos trabalhadores. Um homem filho de uma mulher forte (aliás, tirei meu chapéu para a Glória Pires no papel de Dona Lindú, mãe de Lula), apaixonado pela mãe. É um ótimo filme. Para conhecer a vida de um brasileiro. (Importante ressaltar que o filme acaba bem antes de Lula ser candidato a Presidente em 1989).


E qual a relação disso com o vazamento do áudio de Boris Casoy, no telejornal, ofendendo a um gari? Destilando preconceito contra um trabalhador? Me parece evidente: esse gari deve ter uma história muito parecida com a do Presidente. Ao ouvirmos os pensamentos de Boris Casoy, tivemos a oportunidade de desmascarar uma face perversa da elite brasileira: o preconceito, o asco que sentem com quem trabalha e constrói o Brasil de fato. Como li no twitter, certamente se este gari parar de limpar a sua rua sentiremos mais falta do que de Boris Casoy. O trabalho do gari faz sentido, mesmo que muitas vezes ninguém perceba.


Engraçado ouvir Boris Casoy pedindo desculpas. Nós não aceitamos! Porque preconceito não se desculpa, se combate. E nós combatemos quando criamos um final diferente para a vida daquele menino do filme: o elegemos Presidente e começamos, devagarinho, a mudar o Brasil.


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Esperei alguns dias para escrever do computador de casa, é esse o meu preferido. Sejam todos muito felizes em 2010, tenham todos muita paz e saúde porque o resto nós conquistamos juntos! Felicidade, amor, trabalho. E muita luta!
* Manuela D'Ávila é deputada federal pelo PCdoB gaúcho, jornalista e dirigente nacional da União da Juventude Socialista (UJS).

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Especial: 1ª CONFECOM

Portais de comunicação alternativos avaliam 1ª CONFECOM

Acompanhe a avaliação dos principais portais de informação de esquerda do Brasil em relação a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), encerrada no dia 17 de dezembro de 2009.