quarta-feira, 4 de abril de 2012

O futuro do Bairro Lami



A vontade de conhecer melhor Porto Alegre me levou ao extremo sul da cidade, ao bairro Lami,  num bate papo com os estudantes do Ensino Médio da Escola Oscar Coelho de Souza em agosto do ano passado. A impressão que tive daquela conversa, o sentimento de abandono que aqueles jovens manifestaram, ao atestarem a falta de transporte público, equipamentos de lazer, esporte, oportunidades de trabalho, me chamou muita atenção. Registrei no meu blog as impressões que tive na ocasião, mas minha atenção retornou ao Lami quando a deputada Manuela D'Ávila foi ao bairro em janeiro deste ano no projeto bairro a bairro, onde ela tem visitado vários lugares da cidade para captar "as principais necessidades e vulnerabilidades de todas as regiões".

"Vamo falá do nosso Lami"
Para tentar entender melhor o Lami comecei a pesquisar o que a UFRGS estava escrevendo sobre ela e encontrei um estudo de mestrado de 2007 da cientista social Fernanda Rechemberg, intitulado "Vamo falá do nosso Lami". A dissertação me interessou porque tratava-se de um estudo antropológico que resgatava a memória dos moradores mais antigos do Bairro. De certa forma, eu pude juntar aquele bate papo que eu tive com os jovens com as memórias que li nesse estudo dos mais antigos, e várias ideias foram se formando na minha cabeça, do presente e do passado fermentando e produzindo o futuro desse lugar que é parte importante de Porto Alegre.

 As mudanças do bairro Lami
É muito claro que o Lami vem se modificando com o tempo. O perfil das pessoas tem mudado, em função do loteamento de várias terras antes ligadas a agricultura, e o presente já apresenta uma maioria da população que trabalha em atividades urbanas. Essas mudanças, no entanto, não foram acompanhadas suficientemente pelo poder público, que ainda não fornece cobertura suficiente de transporte, saneamento, hospitais, segurança, escolas, praças, etc. Mas, ao mesmo tempo que o Lami se urbaniza, ele reafirma a sua vocação rural e ecológica. Ou seja, se é verdade que o Lami afirma a necessidade de trazer o lado bom do chamado "progresso", que são toda a infraestrutura necessária ao deslocamento e a manutenção da qualidade de vida dos moradores, ela também afirma a necessidade de não perder sua identidade de território ecológico e rural. 

Turismo rural
Fernanda dedica um trecho importante de seu estudo ao crescimento do turismo rural no Bairro, onde relata o crescimento do interesse principalmente das classes médias e altas pela "agricultura, artesanatos, floricultura, educação ambiental, produtos coloniais e a criação de cavalos e outros animais". Ela informa que em função disso, um grupo de moradores e produtores da região sul de Porto Alegre elaborou o projeto "Caminhos Rurais" em parceria com agências de turismo e a EMATER/RS. Soma-se a esta informação o relato da visita de Manuela ao extremo sul, onde ela anotou ter tomado café da manhã "com uma produtora de alimentos orgânicos e que defende o fortalecimento e o incremento do turismo rural". Este parece ser um caminho a ser aproveitado para valorizar o imaginário coletivo rural do bairro ao mesmo tempo preservando a natureza e freando a urbanização descontrolada. No entanto, o turismo rural deve ser acompanhado de uma eficiente cobertura de equipamentos urbanos que confiram qualidade de vida às pessoas do Lami.

Atenção do poder público
A sensação de abandono que os moradores relatam tanto na tese de Fernanda, quanto no bate-papo que tive com os jovens, e só que só se confirmam na visita de Manuela, não se resolverão somente com o turismo rural. O Lami precisa de atenção todo ano, e não somente quando recebe visita dos turistas, que é principalmente no verão. "Atenção" se traduz em saneamento básico, coleta de lixo, mais linhas de ônibus, criação de oportunidades de lazer e geração de renda, etc. Parece que um projeto sustentável para o Lami deve saber fazer a síntese adequada entre a necessidade da valorização as tradições e a memória dessa comunidade e a necessidade de garantir um futuro para as novas gerações. Receitas não existem, mas todas as soluções devem ser dialogadas com a comunidade.

Texto de Igor Corrêa Pereira

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