quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Caminhada em defesa do trabalho dos músicos toma as ruas de Porto Alegre

O decreto polêmico que pretende restringir a execução de música ao vivo em Porto Alegre,  de autoria do prefeito Fortunati, foi alvo de uma passeata organizada por músicos que trabalham no bairro boêmio da cidade na noite de ontem (28/02). Também está sendo organizada na internet um abaixo assinado contra o Decreto, destinado a Secretaria de Indústria e Comércio do Município. A petição on line pode ser lida e assinada clicando aqui.

A proposta de decreto, ainda não assinado pelo prefeito, estabelece um horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais noturnos proibindo música ao vivo em locais que não sejam considerados casas noturnas. Em outras palavras, todos os botecos, que fazem a alegria dos frequentadores da noite do bairro, com vários pontos de música ao vivo. A petição on line alerta que a medida tiraria o direito ao trabalho de vários profissionais, além dos músicos. 

O músico Juliano Luz, um dos organizadores da Caminhada realizada ontem, considerou o grande fluxo de pessoas um sucesso. "Que evento lindo! Muito mais gente que a gente esperava! Muito obrigado a todos que apóiam essa causa!" escreveu ele no facebook ontem. Para Gabi Tolloti, uma das participantes do evento, a caminhada foi bem-sucedida, mas não significa a garantia da derrota do decreto. "É um avanço, mas ainda não vencemos!", destaca ela. 
Texto de Igor Corrêa Pereira
Veja mais: 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FNRU critica política habitacional de Porto Alegre


Um conjunto de 19 entidades integrantes do Fórum Nacional de Reforma Urbana está mobilizando a sociedade civil para a instauração do Fórum Sul de Reforma Urbana. Na carta-convite para a reunião que discutirá a criação deste Fórum, as entidades denunciam o governo municipal de Porto Alegre de "violações aos direitos humanos" que se materializam na capital gaucha e em outras cidades "através dos despejos massivos, da periferização da pobreza, da apropriação privada dos espaços públicos e da reserva de áreas para os projetos do capital". 

O documento critica  a política de habitação do governo municipal frente aos preparativos para sediar a Copa do Mundo de 2014. O governo Fortunati "se abre ao mercado imobiliário e permite este se espraiar na cidade promovendo remoções (...) da população pobre para áreas sem infraestrutura", dispara o texto. A reunião de instauração do Fórum Sul de Reforma Urbana será dia 03 de março de 2012, das 09 às 16h, na Assembléia Legislativa do Estado do RS, localizado na Praça Marechal Deodoro, 101 - Porto Alegre/RS.

Para ler a integra da carta-convite, clique aqui

 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Muamba de Campo Bom resgata a cultura popular


A 1ª Muamba Comunitária de Carnaval de Campo Bom/RS realizada dia 17/02/12 mobilizou mais de 500 pessoas que reinscreveram o carnaval no circuito cultural da cidade. Contrariando a alegação conservadora que proibiu esta celebração na cidade sob o argumento de que a festa proporcionava violência, nenhuma briga foi registrada. Pelo contrário, o ambiente festivo e familiar predominou na noite de folia, cobrindo de êxito a iniciativa da União das Associações de Bairros e Vilas (UABV). Confira algumas fotos da Muamba do dia 17 e do carnaval na cidade vizinha Sapiranga, realizado dia 18 aqui no blog: 

Fórum Mundial da Bicicleta pode instigar a necessidade de um Plano Cicloviário

Começa amanhã  e vai até 26 de fevereiro o primeiro Fórum Mundial da Bicicleta. O evento ocorre na cidade de Porto Alegre e é uma iniciativa de usuários de bicicleta da cidade e empresários do setor de comércio e serviço. Confira a programação clicando aqui. O evento, que marca um ano do atropelamento intencional que ocorreu contra ciclistas de Porto Alegre (25/02/11) já ocorre sob um clima de maior conscientização do poder público sobre a importância da construção de soluções sustentáveis de mobilidade urbana.

SEMA RS promoveu passeio ecociclístico

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente do RS tem ser revelado um importante interlocutor com as pessoas que reivindicam a importância da bicicleta para a promoção da mobilidade urbana. Já na abertura da Semana Estadual do Meio Ambiente do ano passado foi realizado um passeio ecociclístico do Parque Marinha do Brasil até o Jardim Botânico. Foram mais de 6km de pedalada sob o frio de seis graus do inverno porto-alegrense. Nessa ocasião, a secretária da SEMA, Jussara Cony (PCdoB), fez questão de destacar: "Nós temos que fazer desse evento um símbolo. Porto Alegre, o Estado e País precisam ter ciclovias, sob o ponto de vista da sustentabilidade ambiental, da nossa saúde e de todo processo coletivo".

Região Metropolitana de Recife discute mobilidade urbana

O Parlamento Metropolitano, entidade formada pelos vereadores dos 14 municípios que integram a Região Metropolitana do Recife, realizou em dezembro de 2011 uma audiência pública sobre mobilidade urbana, tendo como principal objeto da discussão, a criação de ciclovias. Nessa audiência foi discutida a inserção da bicicleta no sistema de transporte, tendo como públicos-alvo, o trabalhador e o estudante. O coordenador do programa Ciclovia nas Cidades de Pernambuco Marcelo Bione, informou que a Região Metropolitana do Recife já dispõe de 73,4 km de ciclovias e ciclofaixas e assegurou que o Governo pernambucano vem tomando várias medidas de incentivo, como uma Lei de Estacionamento, o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana de Recife e a Lei Estadual de Incentivo ao uso da bicicleta.

Por um Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana de Porto Alegre

A bicicleta é um meio de transporte utilizado muitas vezes como alternativa ao transporte público ou ao carro, e merece ser alvo de maior atenção do poder público municipal. Apesar de anunciar a construção de mais de 45 km de ciclovias para a Copa do Mundo de 2014, a prefeitura de Porto Alegre não têm fomentado a cosntrução de um Plano Diretor Cicloviário que pense a Região Metropolitana no seu conjunto. Uma parcela significativa da população utiliza a bicicleta como um meio de transporte para trabalhar ou estudar. Essa prática deve ser incentivada por meio de políticas públicas articuladas, que vão desde a educação ambiental até a construção de meios seguros para a circulação das bicicletas. O Fórum Mundial da Bicicleta pode ser mais um momento para instigar esse debate necessário que infelizmente a Prefeitura não têm enfrentado.

Texto: Igor Corrêa Pereira, com informações do Blog ONGCea, SEMA RS, Prefeitura de Porto Alegre e Câmara Municipal de Recife.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O sonho do carnaval pode virar realidade

Este sem dúvida já é  o ano em que eu mais vivi na pele e na alma o carnaval. Já antes de desfilar no Porto Seco com a Imperatriz Dona Leopoldina nesta sexta dia 17/02, pude participar da linda homenagem que a Central d@s Trabalhador@s do Brasil (CTB) fez ao carnaval, lançando seu samba enredo em plena Marcha de Abertura do Fórum Social Temático em janeiro. A linda música composta pelos jovens Mestre Fabio Lolo, Andrei do Cavaco e Renan SN tomou conta do Fórum que nasceu para cantar outro mundo possível. 

O sonho do Fórum se fundiu ao sonho do carnaval. O resultado dessa mistura mágica fez uma abertura que conquistou a população de Porto Alegre. A população que espera ônibus e vê sua ida pra casa atrasada por uma Marcha que lhe parece estranha, desta vez se sentiu chamada a sonhar também.

Existe um sentimento muito bonito que está invadindo as pessoas. Um sentimento de auto-estima, de brasilidade, que se percebe muito forte no carnaval, com muitos enredos contando aspectos do Brasil. O Brasil está se gostando mais, se assumindo em sua cultura, sua música. Isso é perceptível na alegria do primeiro aluno matriculado no curso de Música Popular da UFRGS. Sim eu estava lá. Se Oxalá permitir, poderei contar aos meus netos que eu estive presente nesse momento especial em que a Música Popular finalmente ingressou na Academia.

Leci Brandão disse que a avenida carrega consigo o poder do sonho e Joasinho Trinta afirmou que carnaval é o único momento de irrealidade. Os dois mestres do samba falavam desse mesmo fenômeno da dona de casa que vira rainha e do pedreiro que vira guerreiro romano na avenida. Sonho ou realidade? O que Leci chamou de sonho e Joãosinho Trinta de irrealidade, na verdade tem o mesmo significado simbólico. A magia do carnaval se explica por esse momento de libertação do povo trabalhador, explorado pelo patrão, que pega ônibus apertado todo o dia, mas que tem na avenida seu momento de glória. Nossa luta é para que esse momento se prolongue. Se eternize. O sonho pode virar realidade. Tá aí a definição do socialismo à brasileira: socialismo será quando  a magia do carnaval durar o ano inteiro.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O 2º BlogProgRS e o Direito Humano a Comunicação


Organizadores do primeiro Encontro de Blogueir@s do RS convidam interessados a participar de reunião para tratar do segundo encontro estadual. A próxima reunião, aberta ao público, ocorrerá no dia 29 de fevereiro, às 18h30min, no Ponto de Cultura La Integracion, Rua Santana 260.

O primeiro Encontro Estadual de Blogueir@s do RS, realizado em maio de 2011, surgiu baseado na conviccão de que a comunicação é um direito humano, mas que no Brasil vem sendo "tratada como um produto, de acordo com a lógica de mercado, que transforma direitos em privilégios de uma pequena parcela da população, tornando-se, assim, uma ferramenta de opressão e marginalização". 
 
O Encontro de blogueir@s é uma reflexão sobre o significado do surgimento da blogosfera enquanto fenômeno democratizante da mídia. O blog é uma plataforma que possibilita dar vazão ao anseio social por comunicar-se. O direito humano a voz, o direito humano a liberdade da expressão, com o surgimento da blogosfera, ganha novo sentido e se fortalece. 

O Conselho Estadual da Comunicação

 Para avançar no caminho de se compreender a comunicação como um direito humano, é preciso reivindicar a criação no RS de um Conselho Estadual de Comunicação aos moldes do que foi já criado na Bahia no dia 10/01 deste ano. A criação de um Conselho de Comunicação significa o reconhecimento do Estado de que a comunicação é um direito de tod@s, que podem por isso participar da execução de políticas públicas para democratizar a comunicação, garantindo a ampliação do acesso aos meios de expressão. 

A criação do Conselho de Comunicação na Bahia nos dá subsídios ao debate aqui no RS. É preciso reunir num mesmo espaço de diálogo todos os segmentos envolvidos na questão da comunicação para juntos formular políticas nessa área, da mesma forma como acontece em outras áreas. 

O desafio está lançado. Tod@s convidados a construção do 2º BlogProgRS fortalecendo a comunicação com direito humano.

Leia mais:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Campo Bom vai ter carnaval sim senhor!



A União das Associações de Bairros e Vilas de Campo Bom/RS (UABV) mobilizou-se e conquistou pela primeira vez em dez anos uma atividade de carnaval de rua na cidade. A 1ª Muamba Comunitária de Campo Bom ocorrerá no dia 17 de fevereiro de 2012 das 19h30min às 24h no Largo Irmãos Vetter.

Pela volta do carnaval

O carnaval, que era bastante ativo na cidade, foi gradativamente proibido no governo Giovani Feltes (PTB/PMDB), com o pretexto de "ser muito violento". Segundo o dirigente do Sindicato dos Sapateiros da cidade e integrante do coletivo da CTB Tiago de Souza, a proibição é uma forma de "apagar" a cultura afro-brasileira e dos trabalhadores, que têm uma importante participação na história da cidade. "Tínhamos um carnaval bastante animado em Campo Bom, cada bairro tinha seu bloco, e tínhamos umas quatro escolas grandes", recorda.

O evento foi gradativamente sendo proibido. Neste ano, graças a mobilização da UABV, sob a presidência de Sandro Luiz dos Santos, e do carnavalesco da Escola de Samba de Sapiranga Emilio Cacote,  será realizada uma muamba na Praça central da cidade. O evento, que tem apoio do Sindicato de Sapateiros, União de Estudantes, Centro cultural Marcelo Breuning, Movimento de Igualdade Social e Associação para o Desenvolvimento Social e Humano da cidade, é de inteira iniciativa dos movimentos. A expectativa é que a festa marque o retorno dos anos dourados do carnaval da cidade. O blog Igor de Fato deseja sucesso a essa iniciativa de promoção da cultura popular.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Nenhuma escola será campeã antes da Imperatriz passar na avenida!"


A Escola de Samba do grupo especial de Porto Alegre Imperatriz Dona Leopoldina esquenta os tamborins para o desfile no sambódromo do Porto Seco dia 17/02, às 21h. No ensaio na quadra da Escola realizado dia 08/02, o presidente Mauricio dos Santos Nunes afirmou a disposição e a preparação da agremiação para entrar na Avenida e respondeu aos ataques feitos pela RBS, que veiculou em seus meios de comunicação que a Escola não é favorita ao título. "Nenhuma escola será campeã antes da Imperatriz passar na avenida!" bradou ele, levando ao delírio as centenas de pessoas que lotavam o lugar. Hoje (10/02) é a muamba da Escola no Porto Seco, último ensaio da Laranja e preto antes de entrar na avenida. A muamba está prevista para as 22h30min e é aberta ao público geral. Participe!

Confira o vídeo do Samba-enredo da Imperatriz Dona Leopoldina, e leia a letra abaixo.



75 ANOS DE CARA PINTADA DE BRASIL

“UNE somos nós, nosso Samba, nossa Voz!”
Autores: Emerson Dias, Mingau e Andy Lee



Minha coroa faz você tremer
Meu pavilhão é que me faz chorar
No samba, hoje a UNE somos nós
Comunidade Imperatriz é nossa voz

Avante, a nossa marcha começou
Coragem é a vanguarda juvenil
Em tempos de mexer balangandãs
Buscavam esperança pro Brasil
Na fé vão quebrando barreiras
A “PAZ” era a sua bandeira
Rebelde sim, de coração
O que é nosso ninguém tira, vale ouro
Legalidade, liberdade de expressão

Do Mané pro Pelé a galera gritou.. É gol, é gol!
Um estilo dançante tão lindo surgiu
Dos anos dourados, a lembrança ficou
A força da União Estudantil

Tormenta, repressão, tirania... o povo não agüenta
Do lado mais fraco a corda arrebenta
Um clamor pelas ruas se fez ecoar
Caminhando, cantando, seguindo a canção
Somos todos iguais, armados ou não
Quero seguir... é proibido proibir
De cara pintada meu anseio é maior
E mostro a cara pro futuro ser melhor
O tempo não pára, o sol vai nascer
Sou um guerreiro LEOPOLDINA até morrer


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Fonseca: "Um projeto nacional é absolutamente necessário para o país"


"Um projeto significa colocar a opção política na frente  das decisões econômicas, ter consciência quanto a um rumo que se quer tomar e subordinar o mercado e as decisões privadas a essas diretrizes".


O economista, professor e pesquisador Pedro Cezar Dutra Fonseca têm um currículo invejável. Ex-vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entre 2004 e 2008, foi o ganhador do prêmio Pesquisador Gaúcho 2011, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).  Fonseca é considerado Pesquisador Destaque na área de Economia e Administração. Em janeiro deste ano, aceitou gentilmente palestrar sobre a crise do capitalismo num debate proposto pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) realizado em Porto Alegre/RS no acampamento da juventude do Fórum Social Temático. Nesta ocasião, concedeu entrevista exclusiva ao Portal da CTB, na qual afirma que a onda liberal de desregulamentação bancária e aumento de gastos com guerras dos Estados Unidos e países ricos da Europa nos anos 80 e 90 contribuiu para o agravamento da crise do capitalismo, e declara a necessidade de um projeto nacional que coloque "a opção política na frente  das decisões econômicas". Leia a entrevista na íntegra aqui:
Por Igor Corrêa Pereira*



Pergunta: O senhor citou numa entrevista o pensamento de Celso Furtado de que a política econômica não pode ter sua  estabilização como um fim em si mesmo, sendo o fim último a melhoria do bem-estar, o que se consegue com mais renda e emprego. Essa afirmação tem implícita a disputa de concepção entre o neliberalismo e o chamado novo desenvolvimentismo, sendo Furtado um teórico associado a segunda concepção. Na sua opinião, a atual crise do capitalismo é uma consequência da opção política dos países centrais do sistema pela doutrina neoliberal?

Pedro Fonseca: As crises cíclicas constituem característica inerente das economias capitalistas. A crise econômica é resultado da opção política dos governos dos países centrais, mas apenas em parte. De um lado, é claro que a onda liberal das décadas de 1980 e 1990 aumentou a desregulamentação do sistema bancário em países como Estados Unidos e Reino Unido e isso contribuiu para a majoração da crise a partir de 2008. Também o gasto público aumentou, especialmente na área de segurança (guerras) a partir de Reagan, ao mesmo tempo em que se cortava impostos, especialmente dos mais ricos. Os governos republicanos tentaram, então, manter o equilíbrio orçamentário através do corte dos gastos sociais, mas esta medida não foi suficiente para cobrir o volume dos gastos de guerra. Mas há razões que vão além das simples opções políticas de um ou outro governo, pois são estruturais e decorrem da própria lógica do sistema, ou seja, da expansão cada vez maior das transações financeiras e do chamado “capital fictício”. De um lado, a dificuldade de os governos e os bancos centrais criarem legislações nacionais e internacionais que estabeleçam marco regulatório à mobilidade de capitais. Por outro, a emergência da China não só como concorrente na produção de itens industriais mas como financiadora e credora de países centrais, como os Estados Unidos. Estes conseguiram manter um alto nível de consumo via endividamento, que obviamente teria limite. A situação a qual chegamos é inusitada: a nação hegemônica passou de credora e exportadora de capitais para devedora, possui balanço de pagamentos deficitário e ainda emite a moeda reconhecida como das trocas internacionais (o dólar). E não tem força suficiente para fazer com que a China reverta a política de desvalorizar sua moeda.

Pergunta: As centrais sindicais estão realizando atos pela redução de juros como forma de geração de mais empregos, e reivindicando em favor de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho. Por muito tempo, a ideia do projeto nacional foi considerada coisa do passado. Com a crise do modelo capitalista em nível global e a notável emergência do Brasil e outros países do Sul do mundo, a ideia do projeto nacional pode voltar a tona como uma possibilidade de superação da crise? Em caso afirmativo, seria este Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento aos moldes do que Goulart e mesmo os militares implantaram no Brasil?

Pedro Fonseca: Entendo que um projeto nacional e absolutamente necessário para o país. Ele significa a busca de um consenso, por mínimo que seja, sobre o que denominamos “longo prazo”: para onde queremos ir, como o Brasil se inserirá em mundo cada vez mais competitivo, em que setores industriais e agrícolas iremos colocar as fichas para uma aposta no futuro. Um projeto significa colocar a opção política na frente  das decisões econômicas, ter consciência quanto a um rumo que se quer tomar e subordinar o mercado e as decisões privadas a essas diretrizes. Projeto não significa abolir o mercado como apregoa o pensamento neoliberal, mas delimitar seu espaço, ou seja, fazer com que o público predomine sobre o privado. Mas claro que um projeto nacional hoje deve ser diferente da época de Goulart ou dos governos militares. Hoje o Brasil já é uma nação industrializada, a economia mais internacionalizada, a agricultura com liderança mundial em vários segmentos. O projeto tem de ser outro, o que não muda é a necessidade de se ter um projeto. Por exemplo: a opção do Brasil de ser exportador de commodities para atender a demanda chinesa é algo que deve ser um modelo para o desenvolvimento futuro, ou uma situação que sem dúvida deve ser aproveitada, mas sem correr o risco da desindustrialização? Há sentido em se comprar calçados asiáticos e fechar as fábricas do vale do Sinos? Como sustentar o crescimento de amplas faixas de população que saem da linha da pobreza e passam a demandar mais alimentos, vestuário, transportes, educação, segurança? Que setores sustentarão o nível de emprego em uma sociedade com intenso progresso tecnológico e com conseqüente liberação de mão de obra? Há questões de vulto a serem enfrentadas e respondidas; um projeto tenta concatenar e estabelecer prioridades e prazos. Se a sociedade não fizer isso de forma organizada e politizada, as respostas virão de qualquer forma – e, na maioria das vezes, de forma trágica, aumentando as desigualdades e os problemas econômicos e sociais.


*Igor Corrêa Pereira é blogueiro, técnico da UFRGS e membro do Coletivo de Juventude da CTB/RS.
Foto de: Maria Carolina Ouriques de Bittencourt