quinta-feira, 25 de julho de 2013

Unir as juventudes e trabalhador@s do campo e da cidade para conquistar direitos

11 de julho mostrou que juventude e trabalhador@s do campo e da cidade unidas param o país e essa unidade pode garantir o avanço nas mudanças e conquista de direitos
As manifestações de junho foram impressionantes demonstrações de como a juventude na rua pode acelerar mudanças. De imediato reduções nas tarifas em várias capitais foram anunciadas, e a presidenta Dilma anunciou mudanças nos setores  de mobilidade urbana, educação, reforma política e saúde.

Em julho, o "caldo" engrossou com um diferencial importante: os trabalhadores e trabalhadoras entraram pesadamente nas ruas, reforçando o carater progressista das manifestações, numa greve geral como não se via desde 1989. Desta vez, o impacto foi no setor produtivo: as empresas pararam, cidades pararam por completo. Um salto de qualidade na pressão. Agora é preparar o mês de agosto como uma síntese de toda essa rica experiência. O desafio é fazer avançar de fato mudanças estruturais em pelo menos seis  eixos-chave, lembrando o Manifesto da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira realizado em março e abril: Trabalho decente; Educação e Saúde; Passe Livre e Reforma Urbana; Reforma Política; Democratização da Mídia; Reforma Agrária.

1. Trabalho decente
 A redução da jornada de trabalho para 40h significa a geração de pelo menos 2 milhões de empregos, mas a pauta da redução da jornada significa também garantir que trabalhadores consigam estudar e ter lazer e convivência familiar. É fundamental que o poder público avance em políticas que dêem conta da redução da jornada do trabalhador estudante.

O fim do fator previdenciário é a garantia de uma aposentadoria digna para os trabalhadores.




2. Educação e saúde

O investimento em educação e saúde é condição necessária para o desenvolvimento do Brasil com valorização dos trabalhadores e da juventude. Enquanto trabalhadores da educação são desvalorizados, enquanto jovens evadem das escolas no campo e na cidade, enquanto milhões de pessoas amargam longas esperas nas filas dos hospitais,  recursos milionários são empregados em juros da dívida. Basta disso!


Queremos 10% do PIB para a educação e 10% do PIB para a saúde para termos educação e saúde de qualidade, pública e gratuitas, no campo e na cidade.





3. Passe Livre e Reforma Urbana
Superar os problemas da mobilidade urbana vai muito além do problema dos altos custos e baixa qualidade do transporte público. Somos da opinião que o passe livre para estudantes e trabalhadores desempregados tem que estar sintonizados com uma política de mobilidade urbana, mas a qualidade de vida nas nossas cidades só vai melhorar com políticas de reforma das cidades, garantindo melhores condições de moradia para a população. Precisamos enfrentar os problemas decorrentes da especulação imobiliária que relega a população de classe mais baixa para longe de seus locais de trabalho, submetidos todo o dia a um trânsito cada vez mais caótico e em condições de moradia precárias. A cidade é das pessoas, não das empreiteiras! Pelo direito coletivo de morar e usufruir de uma cidade de qualidade para todos e todas!




4. Reforma Política
A descrença na política tem origem no fato que o peso do dinheiro é o que determina a eleição da maioria de nossos representantes. Basta do peso do dinheiro determinando as eleições! Pela garantia da participação popular no processo de reforma política, com plebiscito, por uma reforma que combata o financiamento privado das campanhas eleitorais e que garanta maior participação de trabalhadores e trabalhadoras, da juventude, das mulheres, dos negros e indígenas, setores atualmente sub-representados em nosso sistema político. Queremos políticos que realmente representem a diversidade do povo brasileiro, e não represente somente quem tem grana para financiar campanhas.

5. Democratização da mídia
A era da informação e do conhecimento não será verdadeiramente democrática sem mecanismos de democratização das mídias. Quem pode se expressar livremente em jornais, revistas, televisões, rádios, senão uma meia dúzia de famílias que detém o monopólio da comunicação? Queremos a aprovação do projeto de lei da mídia democrática, por um sistema de comunicação que garanta pluralidade, diversidade e liberdade de expressão não só para empresas milionárias como o Grupo Abril, as organizações Globo, mas para o conjunto da sociedade.

6. Reforma Agrária - Campo com gente, povo contente!

A crise das grandes cidades evidencia ainda mais a pauta da reforma agrária, que democratize o acesso a terra, mas não só isso. Que garanta inclusão digital, Educação rural e profissionalização, geração de renda e cooperativismo, irrigação e infraestrutura, cultura, esporte e lazer para quem trabalha no campo, principalmente a juventude, que carente de todos esses direitos, acaba inchando os grandes centros urbanos. Campo com gente, povo contente! Reforma Agrária com valorização da agricultura familiar!


Unidos e cheios de esperança, convocamos a juventude a tomar em suas mãos o futuro dos avanços no Brasil. Que venha o mês de agosto com muitas lutas e conquistas. Caso elas não venham, ocuparemos os espaços públicos de discussão, levando aos representantes do povo suas bandeiras por um país melhor. Se o presente é de luta, o futuro nos pertence. Verás que um filho teu nunca fugiu a luta. Venceremos!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Do Brasil de Zezé Di Camargo e Luciano ao de Michel Teló


Estava aqui matutando sobre o sertanejo universitário e nas suas diferenças do sertanejo meloso que tem como ícones Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó. Não só no ritmo, mas nos valores. E é justamente a mudança de valores que me fez escrever esse texto.

Quem era o eu lírico daquele sertanejo, vamos dizer, não universitário? Era um cara sentimental, que falava de um amor verdadeiro e geralmente estava sofrendo por esse amor. Ele pedia desculpa por chorar. Ele não conseguia se livrar das garras desse amor gostoso. Ele era um louco alucinado meio inconsequente, um caso complicado de se entender.

Já o sertanejo universitário, quem é? Ele é um cara baladeiro que acha o seu carro dentro da piscina e o celular no microondas da cozinha depois de uma noite de bebedeira. Ele faz questão de afirmar que não ta valendo nada, não se prende a um amor. Ele tira onda com o camaro amarelo, e profere onomatopeias dizendo que quer tchu e tcha, e tche tchererê tche tche, seja lá o que isso signifique.

Quem leu até aqui pode imaginar que eu seja um nostálgico do sertanejo antigo e passe a recriminar o sertanejo universitário. Não quero fazer esse juízo de valor. Mas vou ousar fazer um paralelo entre os valores e os momentos que o país viveu e vive. Apertem os cintos, aqui começa a viagem.

Os sertanejos melosos estouraram nos anos noventa, no auge do neoliberalismo, e eram o som preferido das classes mais vulneráveis economicamente. O tom depressivo das melodias refletia um jeito de vida triste de quem muito trabalhava e pouco recebia, e que quando muito sobrava um para a pinga no bar da esquina, pra afogar as mágoas.

O sertanejo universitário é o reflexo de outro momento. O momento de valorização do salário mínimo, popularização da universidade, aumento do poder aquisitivo da classe trabalhadora. O sertanejo universitário é a geração que viu seus pais amargurados sofrendo por amor e condições de extrema vulnerabilidade e que não querem isso para si, e não precisam disso, pois tem condições para fazer farra, tirar onda, paquerar sem compromisso, e optam por isso mesmo.


Passados dez anos de um governo que mudou a composição da sociedade, cabe muitas indagações. A que talvez resuma todas elas é: para onde vamos agora? O que queremos? Pode até ser divertido ficar doce, doce, doce, mas é preciso ter um dedo de prosa com essa meninada. Eles precisam fazer mais com essa nova condição do que só querer tchu e querer tcha. 

Em entrevista a revista Princípios, André Singer provocou o conjunto da esquerda dizendo que ela não estava se dedicando tanto quanto deveria ao trabalho de ganhar corações e mentes para projetos mais avançados de sociedade. Concordo. Não basta apenas criar condições objetivas de empoderamento da classe trabalhadora. Se essa classe trabalhadora não se enxerga como sujeito político, ela pode se perder buscando mais do mesmo: a ilusão consumista e individualista que o capitalismo em crise continua vendendo. 

Sem dúvida o Brasil de Michel Teló é melhor que o Brasil de Zezé Di Camargo e Luciano. Prefiro ver o povo feliz, querendo tchu e tchá, do que chorando misérias. Mas será que é só isso que queremos? Aumentar a capacidade de consumo? E os valores? E a capacidade de se preocupar com o coletivo? 

As passeatas de junho demonstraram que as pessoas precisam mais do que está colocado, ainda que não haja um projeto consensual. Em julho, aqueles que não acordaram agora foram às ruas pra dizer de todas as suas lutas e bandeiras históricas. Que tal em agosto promover a síntese desses movimentos?