sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"Quem quer ver o povo desunido, dividido, quer ver o retrocesso", afirma Carrion

Leia íntegra do pronunciamento do Deputado Raul Carrion abrindo a Audiência Pública das Juventudes realizada em 04 de setembro de 2013
Por Raul Carrion*

Essa audiência surgiu de uma visita que recebemos de diversas entidades da juventude, muitas das quais aqui presentes na mesa, que nos trouxeram a preocupação de que a casa do povo realizasse um debate sobre as demandas que a juventude tem trazido para o Brasil e as manifestações de junho fazem parte desse contexto onde não só a juventude brasileira, mas em especial a juventude brasileira trouxe para a sociedade brasileira.

Aliás é natural na história do nosso Brasil. e na história do mundo que as grandes lutas sejam puxadas, vanguardeadas pela juventude, exatamente porque a juventude representa o novo, representa o descompromisso com os problemas que o passado nos deixa e buscam a renovação e a mudança. Então faz parte da própria juventude essa luta. E também nos trouxeram a preocupação pela implementação no Brasil e no  estado do estatuto da juventude que acaba de ser aprovado depois de nove anos de luta e que consagrou demandas na área da educação, da saúde, na área do lazer, do esporte, enfim, da formação técnica, do trabalho, do acesso ao mercado de trabalho que a juventude enfrenta, mas as jornadas da juventude não tem ficado presas aos temas digamos explicitamente da juventude.

As grandes questões nacionais
A juventude tem a preocupação com as grandes questões nacionais, exatamente essas questões foram trazidas pela juventude em junho. Por exemplo, a reforma política, que se fala pelo menos vinte anos e que não se realiza. Essa juventude não se vê representada nas atuais instituições, na representação existente hoje no Congresso Nacional. Aliás eu creio que nós também não nos sintamos representados. Um Congresso onde mais de 350 são os que tiveram as campanhas mais caras, onde as mulheres que são mais de 50% não representam nem 10%, onde os trabalhadores que são a imensa maioria do país não tem nem quem sabe 2% de representação no Congresso. E por que isso? Por que o poder econômico impera na representação política desse país e enquanto o financiamento privado das campanhas predominar, será representado o poder econômico, tanto que os dados eleitorais que na última eleição 95% dos gastos nas campanhas declaradas foram financiados privadas, empreiteiras, bancos e assim, então evidentemente que reforma política é uma aspiração da juventude e acho que uma aspiração de grande parte da sociedade.

 A questão da democratização da comunicação é outra bandeira que a juventude tem levantado, a questão da reforma urbana. Como resolver o problema da mobilidade urbana, para dar um exemplo que foi um dos temas das manifestações, sem uma efetiva reforma urbana? como resolver o problema da moradia, do lazer, do esporte para a nossa juventude numa cidade cada vez mais de poucos e onde a população mais pobre é jogada para a periferia? A questão da reforma agrária, a juventude tem levantado e nos trouxe. A juventude agrária, por exemplo, sem uma reforma agrária nesse país vai ser expulsa do campo para as cidades crescendo as periferias.

A questão da reforma educacional, muito se avançou, não há o que discutir, o PROUNI, o REUNI, as cotas sociais, as cotas raciais, poderia citar aqui n outras questões, escolas técnicas cada vez se difundem mais, fizeram mais escolas técnicas que toda a República nos últimos dez anos, aquestão do PRONATEC e tudo mais, mas ainda carecemos de avanços importantes . Quero registrar aqui a aprovação pelo Congresso Nacional da destinação dos royalties, 75% para a educação e 25% para a saúde, mas ainda não atingimos 10% do PIB para a educação que a nossa juventude, principalmente a UNE e a UBES lutam há tantos anos. Então são essas e outras questões que a juventude quer discutir e a casa tem que estar aberta.

As jornadas de junho negam os avanços?
Acho que alguns não compreendem às vezes com tantos avanços que o Brasil teve, por que a juventude saiu para as ruas? Será que ela está negando esses avanços? Eu acredito que não. A juventude compreende os avanços que ocorreram como importantes, como decisisivos. Agora ela quer mais avanços, mais rapidamente esses avanços se dêem nesse país e quer aprofundar e nesse sentido ela ajuda a empurrar o processo brasileiro para adiante. Povo na rua é possibilidade de avanços maiores. Agora, esse povo na rua tem que ter ideias, propostas, organização. Eu sempre aprendi assim: povo organizado não será explorado, nem manipulado e conseguirá avanços. Então eu vejo às vezes a valorização do espeontâneo, do desorganizado, isso não ajuda a avançar. Quem quer ver o povo desunido, dividido, não quer ver avanços, quer ver o retrocesso.

Então por isso eu congratulo-me com essa juventude que não despertou hoje. Tivesse despertado hoje, minha gente, a ditadura tinha continuado, o neoliberalismo tinha dominado o Brasil, a Petrobras tinha sido vendida, o Banco do Brasil não era brasileiro, Caixa Econômica tinha sido vendida. Se o Brasil tem avançado, não retrocedeu, e não caiu no neoliberalismo é porque a juventude sempre teve na rua, a UNE a UBES, o movimento sindical, todas as organizações, estiveram na luta, agora, temos que ver com grande alegria, que segmentos que ainda não estavam na luta, despertaram e se somam, e acho que hoje a oportunidade desses que estão na luta há muitos anos, desses que surgiram na luta agora se irmanem e construamos esse Brasil que todos nós almejamos, então esse é o objetivo da nossa Audiência Pública. Muito obrigado.

*Raul Carrion é deputado estadual e presidente estadual do PCdoB/RS.