A MEDIAÇÃO DA CRISE*
Os trabalhadores não devem pagar o preço de uma crise que não criaram e da qual não são responsáveis. É preciso que todo o dinheiro público emprestado ao empresariado reverta necessariamente na manutenção e ampliação de postos de trabalho com seguridade social.

Em tempos de crise econômico-financeira mundial, intensifica-se a conflituosa relação entre capital e trabalho que deve ser mediada firmemente pelo Estado.
Os empresários voltam a tecla de que a flexibilização dos direitos trabalhistas seria o “remédio amargo necessário” para reduzir demissões. Em outras palavras, colocam o trabalhador, elo mais fraco da corrente, contra a parede: "ou aceita ganhar menos, ou vai para a rua". As demissões aumentam, e já chegam ao Brasil, principalmente na construção civil, metalurgia e no campo. Por outro lado exigem do Estado que abra seus cofres para sanar os impactos da crise.
Já as centrais sindicais no Brasil e no mundo, tem protestado contra essa onda de precarização do emprego. Argumentam que os trabalhadores não devem pagar o preço de uma crise que não criaram e da qual não são responsáveis. Repudiam o clima de histeria que está sendo criado principalmente por alguns patrões que vêem na crise uma oportunidade para lucrar mais com a quebra de direitos dos trabalhadores. E também exigem uma posição do governo, que aumente sua intervenção para apoiar o desenvolvimento econômico, impondo sempre que os empresários beneficiados por investimentos públicos tenham o compromisso da contrapartida social da manutenção da estabilidade do emprego.
O governo está sendo chamado, portanto, para ser o mediador da crise econômica, tanto por empresários, quanto por trabalhadores. Diferente do que se pensava há pouco tempo atrás, reconhece-se hoje o decisivo papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico. Para exercer responsavelmente esse papel de mediador, cumpre a ampliação de investimentos públicos que induzam ao desenvolvimento do setor produtivo evitando ao máximo a desaceleração da economia. Mas este investimento não pode vir sem uma contrapartida. É preciso que todo o dinheiro público emprestado ao empresariado reverta necessariamente na manutenção e ampliação de postos de trabalho com seguridade social. Ao empresário beneficiado pelos cofres públicos deve caber a responsabilidade com a geração de empregos.
No Brasil, o governo federal dá sinais de apoio ao desenvolvimento. Entre outras medidas, reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), bem como a taxa básica de juros (Selic). Demonstrações ainda tímidas, mas que vão no caminho certo. O Poder Público reúne capacidades de conduzir o timão do navio em tempos de tempestade garantindo que a produção seja ampliada sem prejuízos para a classe trabalhadora. Se houver cooperação geral, principalmente empresarial, pode-se esperar a vitória das dificuldades com o menor ônus econômico e social possível.
Igor Corrêa Pereira
*Publicado em versão editada no Jornal do Comércio de 03/02/09.