segunda-feira, 21 de abril de 2014

Para onde vai o bloco da descrença?


A jornalista Tereza Cruvinel, experiente na análise política brasileira, que cobriu o cenário político desde o período das Diretas quando retornou do Exílio, comentou no Correio Braziliense sobre o ceticismo eleitoral. As pesquisas eleitorais divulgadas no Ibope apontam um candidato sem rosto que está em segundo lugar nas eleições presidenciais. Trata-se da coligação "brancos e nulos". É uma coligação que obtém praticamente a soma dos votos de todos os candidatos nanicos, incluindo aí Randolfe e Eduardo Campos.

O governo Dilma e em especial o seu núcleo de esquerda devem analisar mais detidamente esse contingente eleitoral, que não enxerga em nenhum candidato um projeto que o represente. Qual é o perfil desse eleitorado? Sua escolaridade, composição de gênero, racial, social, etc. Uma hipótese me ocorre: a tão falada classe média de Marilena Chauí, suscetível ao bombareio midiático, encontra-se em crise de sonhos, em crise de projeto. Para onde vai essa parcela considerável da população?

Estive no Chile recentemente e conversando com o taxista que me conduziu do aeroporto ao hotel, descobri que no Chile o voto não é obrigatório, e houve uma baixa porcentagem de comparecimento às urnas. Depois, conversando com uma chilena sindicalista, fui informado que uma parcela significativa da juventude não se sente representada nem por Bachelet, nem por nenhum candidato. Parece o fenômeno identificado pelo filósofo Vladimir Safatle, de uma crise de representatividade do modelo de democracia liberal, que se apresentaria em nível mundial.

É inegável o papel da mídia nessa crise de representatividade. A aposta do monopólio midiático no descrédito a política, aos partidos, associando sistematicamente tudo que é político a corrupção, está intimamente relacionado com essa crise de representação. Outro responsável evidente é o próprio sistema político partidário, que produz um espelho distorcido da sociedade pelo poder das grandes empresas que financiam campanhas milionárias e deixando a maioria da população sub-representada.

A tão falada jornada de junho sacudiu as estruturas, mas não o suficiente. Não basta negar o modelo, é preciso apresentar um projeto alternativo, que chegou a ser rascunhado pela presidenta Dilma: constituinte específica para reforma política. A lúcida e correta resposta foi sufocada pelo fisiologismo. O velho e decrépito sistema corrompido pelo poderio econômico sufocou o novo projeto de política com mais participação popular.

É preciso que essa massa descontente com a política afirme mais claramente um projeto político, sob risco de ser cooptada pela extrema direita. O fascismo e o nazismo vigoraram em momentos de crise econômica e política. Se o bloco da descrença e ceticismo continuar fluido e difuso, os riscos de retrocesso dos avanços sociais serão maiores do que as perspectivas de avanços em mudanças que aprofundem a democracia.

Realmente é um tempo de encruzilhada para o Brasil e me arriscaria a dizer, para o mundo.

terça-feira, 1 de abril de 2014

50 anos depois, a mídia continua golpista

Para ver o vídeo, clique aqui.

Reparem no vídeo exibido aqui, pois é um vídeo da TV Globo exibido em 1975, 11 anos após a instauração do Golpe Militar no Brasil. O repórter Amaral Netto enaltece os acontecimentos politicos e sociais no Brasil entre 1963 e 1975 e as ações de cada presidente após o golpe de 1964. Reparem na argumentação. A justificativa do Golpe Militar está calcada no suposto "caos, agitação de rua, agravamento na crise econômica, desorganização". As greves aparecem como um dos principais problema. "Facções extremistas ameaçavam entrar em choque, montava-se o suborno e a corrupção", denuncia a voz cavernosa de Amaral Netto.

Justamente no aniversário de 50 anos do golpe militar vale a pena fazer uma reflexão sobre esse vídeo. Há muito de semelhante no comportamento da mídia hoje, na tentativa de incentivar o caos, a desordem e a crise econômica. Assim como no pré-golpe nos anos sessenta, a mídia aposta num clima de instabilidade política. Demorará quanto para bradarem uma ação dos milicos? Lobão já começou a defender a Ditadura abertamente, não tardará para que outros o sigam. Para que o filme não se repita novamente, esse filme triste que colocou o Brasil nas trevas por mais de 20 anos, é preciso estar atento.

Quando eu ouço parte da esquerda comemorar a "revolta popular" na Ucrãnia, tenho arrepios. Na Ucrânia, um presidente eleito foi deposto por um não eleito e o PSTU comemorou, mesmo admitindo que quem substituiu o presiddnte de lá também é da extrema direita. Ou seja, admitiu que o conceito de revolução popular deles admite retrocesso. Derrubando presidente já é revolução, não importa quem assuma no lugar e qual projeto.

Não esqueçamos que os defensores do Golpe de 1964 também chamam até hoje o episódio de  "revolução"... Quando vejo manifestações que picham na sede do PT que Dilma é igual a Maduro, tenho novos arrepios. O que quer essa oposição violenta que está alinhada aqui e na Venezuela?

A violência e a instabilidade política aqui, na Venezuela ou na Ucrânia, só favorece os EUA. Os três países que sofrem hoje processos distintos de instabilidade, tem algo em comum. O presidente deposto na Ucrânia buscava aliança com a Rússia, portanto era não-alinhado com o Ocidente, ou seja, EUA e UE. Venezuela e Brasil também não são alinhados com a política de Obama, colocando a soberania de seus países em detrimento de uma postura submissa ao Império. E são justamente os três que tem oposições violentas e mascaradas. Coincidência?

50 anos depois do Golpe, alguns elementos são assustadoramente atuais. Repetiremos a história?