sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Crise do capitalismo

A MEDIAÇÃO DA CRISE*
Os trabalhadores não devem pagar o preço de uma crise que não criaram e da qual não são responsáveis. É preciso que todo o dinheiro público emprestado ao empresariado reverta necessariamente na manutenção e ampliação de postos de trabalho com seguridade social.


Na foto, sindicalistas protestam contra a onda de precarização do emprego.


Em tempos de crise econômico-financeira mundial, intensifica-se a conflituosa relação entre capital e trabalho que deve ser mediada firmemente pelo Estado.

Os empresários voltam a tecla de que a flexibilização dos direitos trabalhistas seria o “remédio amargo necessário” para reduzir demissões. Em outras palavras, colocam o trabalhador, elo mais fraco da corrente, contra a parede: "ou aceita ganhar menos, ou vai para a rua". As demissões aumentam, e já chegam ao Brasil, principalmente na construção civil, metalurgia e no campo. Por outro lado exigem do Estado que abra seus cofres para sanar os impactos da crise.

Já as centrais sindicais no Brasil e no mundo, tem protestado contra essa onda de precarização do emprego. Argumentam que os trabalhadores não devem pagar o preço de uma crise que não criaram e da qual não são responsáveis. Repudiam o clima de histeria que está sendo criado principalmente por alguns patrões que vêem na crise uma oportunidade para lucrar mais com a quebra de direitos dos trabalhadores. E também exigem uma posição do governo, que aumente sua intervenção para apoiar o desenvolvimento econômico, impondo sempre que os empresários beneficiados por investimentos públicos tenham o compromisso da contrapartida social da manutenção da estabilidade do emprego.

O governo está sendo chamado, portanto, para ser o mediador da crise econômica, tanto por empresários, quanto por trabalhadores. Diferente do que se pensava há pouco tempo atrás, reconhece-se hoje o decisivo papel do Estado como indutor do desenvolvimento econômico. Para exercer responsavelmente esse papel de mediador, cumpre a ampliação de investimentos públicos que induzam ao desenvolvimento do setor produtivo evitando ao máximo a desaceleração da economia. Mas este investimento não pode vir sem uma contrapartida. É preciso que todo o dinheiro público emprestado ao empresariado reverta necessariamente na manutenção e ampliação de postos de trabalho com seguridade social. Ao empresário beneficiado pelos cofres públicos deve caber a responsabilidade com a geração de empregos.

No Brasil, o governo federal dá sinais de apoio ao desenvolvimento. Entre outras medidas, reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), bem como a taxa básica de juros (Selic). Demonstrações ainda tímidas, mas que vão no caminho certo. O Poder Público reúne capacidades de conduzir o timão do navio em tempos de tempestade garantindo que a produção seja ampliada sem prejuízos para a classe trabalhadora. Se houver cooperação geral, principalmente empresarial, pode-se esperar a vitória das dificuldades com o menor ônus econômico e social possível.








Igor Corrêa Pereira
*Publicado em versão editada no Jornal do Comércio de 03/02/09.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fechamento da escola itinerante do MST/RS

PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

Como nos tempos da ditadura, escolas itinerantes são fechadas por terem opinião contrária ao regime.

Na foto 1, estudantes da UFSM brincam com educandos itinerantes. Parceria da UFSM com escolas do MST já rendeu até livro.

Na foto 2, Escola Itinerante de Acampamento em São Paulo. Experiência de educação do MST tem reconhecimento internacional.

ACESSE AQUI: Por que Yeda acabou com a Escola Itinerante?




"[As escolas itinerantes] são células que vão alienando as crianças.(...) O MST quer implantar uma sociedade socialista".
Gilberto Thums, Procurador de Justiça do Ministério Público Estadual


"(...) vamos fazer o que for preciso para que a escola itinerante continue. Não fazemos isso por salário ou emprego, mas porque acreditamos que esse é um direito que as crianças têm".
Altair Morback, educador da escola itinerante Che Guevara, do acampamento Jair da Costa, em Nova Santa Rita/RS


Nos tempos da ditadura civil-militar brasileira, vários intelectuais e políticos brasileiros foram expulsos do país. Dentre eles, o educador mundialmente reconhecido Paulo Freire. O motivo? Pensavam diferente do que era “permitido” pelo regime da época.

Pois bem. Parece que o Procurador de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul sentiu saudades dos velhos tempos. Resgatando velhos jargões como “coibir a esquerda radical”, “células de lavagem cerebral” e criminalização de “propaganda socialista”, o Procurador Gilberto Thums, com todo apoio do governo estadual do PSDB de Yeda Crusius, vem empreendendo uma cruzada contra os subversivos educadores do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Depois de um acordo entre a governadora Yeda (PSDB) e o Ministério Público estadual, no dia 18/02/2009 a escola foi declarada fechada por ter como objetivo “implantar uma sociedade socialista”. O MST já declarou que vai fazer o que for possível para reverter a decisão.

Causa espanto a posição do Ministério Público e do governo do estado. É escancarada a perseguição política ao MST, que baseia o seu projeto político-pedagógico nas ideias do educador Paulo Freire, que sempre defendeu uma educação pautada na realidade concreta dos educandos, e a construção de uma consciência crítica.

O que é escola itinerante? POR LUCIELE FAGUNDES*

É uma escola estadual que tem 13 anos no RS. As crianças precisavam estudar durante a luta legítima de suas famílias por reforma agrária, e dessa necessidade surgiu a escola. São feitas de lona preta, e acompanham as crianças aonde forem. Seguem as normas que toda a escola deve seguir. A única diferença é o profundo vínculo com as comunidades que pertencem. A UFSM desenvolve uma parceria de mais de dez anos com as escolas itinerantes do MST. Participo desse projeto há mais de dois anos, e não acho crime uma escola querer se inspirar em Paulo Freire. A decisão de fechar as itinerantes é absurda, agride a democracia que a sociedade lutou para conquistar.

* Estudante de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria. Integrante do DCE da UFSM. Participante do Grupo de Pesquisa em Educação e Território, no projeto de extensão junto às escolas itinerantes.


domingo, 15 de fevereiro de 2009

O que é racismo?

Este vestibular da Universidade Federal de Santa Maria tem um diferencial. Pode ser considerado o primeiro vestibular efetivamente com cotas raciais e sociais da Instituição, já que é o primeiro em que o ponto de corte será diferenciado entre grupos cotistas e não-cotistas.

Neste momento em que se implementa em boa parte das universidades brasileiras uma mudança no sistema de acesso a universidade, convém fazer o questionamento: mas afinal de contas o nosso país é racista? Que conceito de racismo tem sido utilizado para a implementação das ações afirmativas no ensino superior?

Em palestra proferida em vários estados brasileiros sobre educação e racismo, o Professor Renato E. dos Santos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) – uma das pioneiras na adoção da política de cotas – afirma que o conceito de racismo deve ser muito mais amplo do que a experiência individual.

Segundo ele, comumente se entende como atos racistas "xingamentos, humilhações ou constrangimentos” que alguém possa sofrer por causa da cor de sua pele. Para ele, o racismo é muito mais complexo do que estas manifestações individuais. Ele se refere também a mecanismos que impedem o acesso de determinados grupos étnico-raciais a riquezas como o conhecimento, o emprego e a renda, por exemplo. Segundo Santos (2007), a reprodução de barreiras sociais baseadas na raça torna o racismo um dos principais produtores da concentração de riqueza em nosso país.

O professor da UERJ se baseia em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para demonstrar as desigualdades raciais no acesso à educação. Segundo estes números, para 53,6% de jovens brancos cursando Educação Superior em nível de graduação tem-se apenas 15,8% de negros.

Tal cenário demonstra, ainda segundo o professor, que existem barreiras sociais que impedem que um jovem negro tenha o mesmo acesso a educação que um jovem branco. Estas barreiras, segundo a perspectiva apontada por Santos (2007), indicam que a sociedade brasileira é racista, mesmo que não se expressem com freqüência xingamentos ou humilhações a pessoas negras. A desigualdade no acesso a educação é uma forma – talvez muito mais cruel – de racismo.

Com as cotas, o Estado brasileiro está admitindo que, no que diz respeito a educação, as trajetórias de brancos e negros não são marcadas pela igualdade. Assim, para a construção de uma política educacional anti-racista, são necessárias a adoção de reserva de vagas para negros.


*publicado no jornal "A Razão" de 16/01, e do jornal "Diário de Santa Maria" de 30/01/09