sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Democratização da mídia

Liberdade de imprensa ou liberdade de empresa?


Jornal da UFRGS trata de maneira incompleta a questão da liberdade de imprensa, dando maior evidência a versão dos empresários da mídia de que liberdade de imprensa equivale a liberdade de empresa.


A matéria “Entre a regra e a censura”, publicada no Jornal da Universidade de outubro, tratou de maneira incompleta a discussão que envolve as empresas privadas de comunicação e vários governos democráticos e movimentos sociais da América Latina.

No texto existe prioritariamente um único argumento, que defende ser a liberdade da imprensa privada um critério de democracia. Essa é a visão das grandes empresas privadas de comunicação, entre elas o Clarín da Argentina, a Globo no Brasil e por aí vai. No entanto esse argumento tem sido questionado em toda a América Latina, e a matéria deu atenção secundária a essa outra visão.

A matéria evidencia a Sociedade Interamericana de Imprensa, um órgão dos patrões das empresas midiáticas, omitindo espaço para outras visões, como o Fórum Nacional de Democratização de Comunicação, no Brasil, e a própria Conferência Nacional de Comunicação, que ocorrerá no país em dezembro.

Se tivesse recorrido a essas fontes, citaria que para várias entidades da sociedade civil imprensa livre não é sinônimo de empresa privada. Segundo o sociólogo Emir Sader, por exemplo, “Imprensa centrada na empresa privada significa a subordinação do jornalismo a critérios de empresa – lucro, custo-benefício, etc., etc., a ser financiado por um dos agentes sociais mais importantes – as grandes empresas. O que faz com que a chamada imprensa 'livre' seja, ao contrário, uma imprensa caudatária dos setores mais ricos da sociedade, presa a seus interesses, de rabo preso com as elites dominantes”.

Desta forma, para esta visão, uma imprensa livre não pode ser controlada só pela lógica empresarial, mas deve ser pública, de propriedade social e não hegemonicamente privada. Esta é uma proposta que esta sendo discutida no processo de construção da Conferência Nacional de Comunicação, que pode encaminhar propostas no sentido do fortalecimento de uma imprensa realmente livre.

Como condição para a preservação da democracia própria de um veículo de imprensa não-privado, o Jornal da UFRGS precisa abrir espaço para a Conferencia de Comunicação, que contrapõe diretamente às ideias da Sociedade Interamericana de Imprensa. Permitir o contraditório é sem dúvida um critério de democracia que contribui para garantir ao leitor um panorama mais preciso da polêmica que está sendo travada pela sociedade.


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