domingo, 23 de fevereiro de 2014

Desmascarar a violência na Venezuela e no Brasil

Alinhamento entre oposição violenta aos governos de Dilma no Brasil e Maduro na Venezuela fica nítido após manifestação do Bloco de Lutas em Porto Alegre/RS realizado dia 20/02, onde pichação na sede do PT iguala os dois presidentes. Uma pergunta paira: a quem interessa a violência nos dois países?
Acabo de ler a matéria da Carta Capital dessa última semana de fevereiro de 2014 sobre a situação da Venezuela. A reportagem, assinada por Cláudia Jardim, atribui a reação de estudantes de classe média ao governo de Maduro a liderança do político Leopoldo López, ligado a indústria do petróleo nacional e símbolo da elite venezuelana. Ele é o líder do movimento "A Saída", que pretende derrubar Maduro. López é acusado de desviar dinheiro da estatal petroleira PDVSA para a fundação de um partido de oposição. Recentemente foi preso depois da inteligência venezuelana interceptar gravações que revelam que a extrema-direita do país pretendia assassinar López, transformando-o num mártir da oposição. Ou seja, a situação é tensa e complexa.

As circunstâncias do protesto e a ala violenta da oposição

Os protestos contra o governo venezuelano ocorrem em meio a uma crise de abastecimento de alimentos e aumento da inflação provocada, segundo o governo, por uma guerra econômica da oposição, que controla as redes de distribuição de alimentos e boa parte das importações. Chama atenção que os protestos violentos ocorram a noite, promovidos por motoqueiros que apedrejam instalações públicas, bancos e estações de metrô. Foram encontradas em Aragua 2 mil munições de alto calibre em uma casa, ao lado de galões de gasolina. Há indícios fortes de uma tentativa de golpe incentivada pelos Estados Unidos.

É preciso separar o joio do trigo. Nem toda a oposição a Maduro apoia a violência. Henrique Capriles, derrotado nas eleições por Maduro, rejeita a tomada do poder pela violência e diz que sem apoio popular não haverá mudanças. A Constituição venezuelana prevê a possibilidade de um referendo no meio do mandato que pode revogar o mandato presidencial.

Os protestos venezuelanos da última semana tem sido protagonizados por uma juventude de classe média que acha o povo humilde ignorante por apoiar o chavismo. O povo das favelas venezuelanas tem rejeitado e expulso os antichavistas. A escalada de violência preocupa e ameaça as instituições nesse país. O presidente Maduro convocou para esta semana uma Conferência da Paz onde procurará dialogar com todos os setores sociais para neutralizar os movimentos violentos.

A ala violenta da oposição brasileira

A violência de uma pequena parcela da oposição é uma semelhança entre a situação venezuelana e a brasileira. O alinhamento desse setor violento ficou nítido após manifestação ocorrida dia 20/02 em Porto Alegre/RS, onde pichação na sede do PT iguala a presidenta Dilma do Brasil ao presidente Nicolás Maduro da Venezuela. Uma diferença notável nos dois casos é que na Venezuela a crise é de abastecimento de alimentos, enquanto que aqui as dificuldades estão fundamentalmente na questão da mobilidade urbana, que são o mote para os protestos de rua.

No caso brasileiro, essa pequena oposição violenta, que já queimou fusca, depredou bancos públicos e assassinou um cinegrafista, recebe críticas até mesmo da própria oposição. Luciana Genro, pré-candidata do PSOL a vice-presidência da república, criticou os black blocs por assustar e intimidar com suas ações violentas a população, afastando a grande massa dos protestos."A tática black bloc afasta o povo das mobilizações", criticou Luciana.

A despeito da violência, na Venezuela a população mais humilde segue apoiando Maduro. A despeito da violência, as pesquisas apontam que Dilma venceria no 1º turno e a Copa do Mundo é aprovada por quase 60% dos entrevistados.

A quem interessa a violência?

Considerando todos esses elementos, fica a reflexão: a quem interessa a violência? Se não interessa nem mesmo a oposição liderada por Capriles na Venezuela, e nem a oposição liderada por Luciana Genro no Brasil, interessa a quem? É certo que a instabilidade de países não-alinhados com a política estadunidense na América Latina beneficia as pretensões do imperialismo de Obama. A autodeterminação e a política soberana de Venezuela e Brasil incomodam os EUA em franca decadência econômica, e que por isso mesmo aumenta sua violência, manifesta por intervenções militares, espionagem, treinamento e incentivo de grupos de oposição extremista em países cujos governos incomodam sua hegemonia.

Já fizemos aqui um apêlo para que Freixo não se venda a Globo. Acrescentamos que não se venda também ao imperialismo. Os problemas nacionais devem ser resolvidos pela sociedade brasileira. A violência deve ser desmascarada: somente interessa a manutenção da hegemonia do imperialismo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ser oposição ao governo é ser de esquerda?

Navegar por certas páginas de colegas de universidades é um passeio pelo pensamento que vem sendo chamado de coxinha.

Eis que o colega Walmir Jacare Penedo posta a notícia sobre a possível vitória de Dilma no 1º turno em página de debate dos técnicos e o que se seguem são comentários de oposição ao governo pela direita.

Um dos comentários insinua que o motivo da vitória de Dilma é o bolsa-familia, que seria a suposta compra de votos do PT para se manter no poder a custa de supostos ignorantes.

O outro comentário vai mais além: diz que eleger Dilma, a quem qualifica pejorativamente de "guerrilheira", significa instaurar um regime cubano no Brasil.

E por fim, o terceiro comentário critica a Venezuela como suposta agressora de direitos humanos de opositores.

Perecebemos com isso a presença de uma oposição a Dilma pela direita, que tem aversão a pobre, a socialistas, a tudo que seja remotamente próximo da esquerda.

É por isso que ser contra o governo não significa (necessariamente) ser mais esquerda, revolucionário, etc. Depende muito o motivo pelo qual se é contra o governo. Eu acho que o bolsa-família foi e é importante mecanismo de distribuição de renda, penso que a relação Brasil-Cuba é interessantíssima vide o caso do Mais Médicos que tem sido um sucesso e acho que a política cubana tem muito mais a nos inspirar que a estadunidense. E penso também que a Venezuela tem dado exemplos de ter uma democracia muito mais consolidada que a nossa, a julgar pelo número de plebiscitos e referendos realizados, tendo um governo democratizamente eleito.

Tenho críticas a Dilma, mas com certeza não por essas razões. Em todos esses aspectos, ela acertou. E talvez como nunca antes na história desse país.

Globo tenta liderar a oposição ao governo

 
O que significou a matéria do JN de retratação a Freixo?

A edição do Jornal Nacional de ontem (17/02) corria como de praxe. Talvez uma pitada maior de antibolivarianismo e antigovernismo, mas tudo dentro do usual. Sem perder o costume, o jornal agourou a Copa mostrando os perigos de acompanhar a seleção brasileira na primeira fase da Copa no trecho Fortaleza São Paulo, revelou os protestos contra o governo venezuelano pela democracia e liberdade versão america way of life, e desancou os crimes contra a humanidade cometidos pela Coreia do Norte. Até aí, nada de novo, a velha linha editorial dos Marinho. No fim do JN é que a coisa virou surreal.

Numa matéria de mais de 2 min (muito tempo para o horário nobre) o JN fez uma mea culpa que se negou a fazer durante toda a recente vida democrática do país. A matéria, intitulada, "Ato de desagravo em favor de Marcelo Freixo é realizado no Rio" mostra de maneira quase inédita no destaque algo que sempre ocorreu e a Globo nunca mostrou: "Artistas, políticos e intelectuais criticaram a mídia - e a TV Globo, em particular".

Mas isso não é tudo. Depois de dar quase um minuto de retratação ao deputado Freixo, onde ele atribui o ato de desagravo a várias entidades omitindo partidos políticos, a matéria dos Marinho desfecha com um parágrafo digno de emolduração: "A TV Globo entende o desconforto do deputado Marcelo Freixo e dos que o apoiam. Mas está segura de que cumpriu fielmente sua missão de informar - a todos ouvindo e dando espaço para que todos se manifestassem. Omitir dos telespectadores o episódio seria, aí sim, um erro".

Oi? É isso mesmo produção? A Globo finalmente aprendeu e está fazendo um jornalismo isento, garantindo direito de resposta a quem se sente ofendido por suas matérias? Estaríamos também errados quanto a existencia de Papai Noel e o coelhinho da páscoa?

A última vez que vi os Marinho darem direito de resposta foi para o velho Brizola. E foi por decisão judicial, onde o Cid Moreira teve que ler com aquele vozeirão o texto do velho Briza desancando as organizações Globo. Dá-lhe Briza. Mas uma retratação assim, na moleza, só pela "consciência jornalística" da Globo, eu nunca tinha visto.

Ou melhor, já. Temos o caso do Jabor que mudou de opinião em 48h sobre as manifestações de junho. Me parece que agora o motivo da mudança é o mesmo. A Globo está decidida a liderar a oposição a Dilma, e para isso vale até mesmo pedir desculpas em horário nobre. #FreixonãosevendapraGlobo. Fica a dica.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Movimentos sociais se unem em torno da luta por transporte público de qualidade

Gilmar e Neves da Carris e do Comando de greve dos rodoviários, explicam a pauta dos trabalhadores para lideranças de movimentos sociais.
A sede da CTB na Andradas 943 recebeu ontem 04/02 reunião entre representantes do movimento dos rodoviários de Porto Alegre que permanecem em greve a quase uma semana e lideranças sindicais e populares e a vereadora do PCdoB Jussara Cony, com o objetivo de que os movimentos sociais possam entender e ajudar mais os grevistas.

Pela CTB participaram da reunião Guiomar Vidor, Izane Matos e Igor Pereira, além de Antõnio Lopes. Pelo Sindicato dos Municipários de Porto Alegre participou Alexandre Dias. Esteve ainda representante da UBM Fabiane Dutra, da UNE Alvaro Lotterman e da UJS Marcos Puchalski e o representante da CNBB Waldir Bohn Gass, além dos dirigentes do PCdoB Edison Puschalski, Ivandro Latino Morbach e Clóvis Silva e o assessor da deputada Manuela Giovanni Mangia.

Gilmar da Costa
Gilmar da Costa (35), motorista da Carris e trabalhador rodoviário há mais de quinze anos, foi o porta-voz dos interesses rodoviários na reunião. A audiência atenta ouviu um pai de família dedicado e entusiasta defensor de um transporte de qualidade para os usuários e trabalhadores. Falou das dificuldades enfrentadas pela sua categoria no cotidiano de trabalho, da luta desencadeada nos últimos dias que colocou em xeque a direção do sindicato por ter assinado um acordo não respaldado pelos interesses da categoria, e principalmente na esperança de uma vitória. "Tudo o que queremos é dignidade", resume ele.

Segundo ele, nunca tinha se interessado por manifestações e protestos, embora os achasse justos, pois "nunca tinha tempo". Estudou junto com dirigente do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA) Alexandre Dias na educação básica, mas na época, enquanto o amigo era presidente do grêmio estudantil, ele se interessava mais por futebol e namoros. Passados anos, os amigos se encontram na greve dos rodoviários, e o mesmo Gilmar que antes não se interessava por manifestações, agora madruga em piquetes e fala no microfone em massivas assembléias de mais de mil rodoviários no ginásio Tesourinha.

A pauta explicada por Gilmar nessa audiência é a mesma estampada nos cartazes e piquetes nas garagens espalhadas pela cidade. Longe das bandeiras difusas dos protestos de junho, os rodoviários sabem exatamente o que os incomoda: jornadas de trabalho extenuantes com os malfadados bancos de horas e intervalos de mais de 3 horas, onde precisam permanecer na empresa, condições de trabalho com alto grau de periculosidade. Na fase final da greve, a luta por 6h parece emergir como a bandeira mais importante do que os próprios índices de reajuste salarial. Gilmar insistiu na tecla de que os benefícios são também uma bandeira importante: se eles obtivessem 30% de adicional de risco de vida, aceitariam inclusive reajuste zero no salário, argumenta.

No longo discurso, entrecortado por perguntas e falas de incentivo dos interlocutores, Gilmar pontuou ainda a falácia empresarial de que o reajuste salarial demandaria aumento da tarifa. Para ele e o colega Neves, a tarifa é reajustada com base numa planilha que é totalmente controlada e distorcida a bel prazer dos empresários, sem controle nenhum
da prefeitura. "Colocam o lobo cuidando do galinheiro", resumiu Gilmar. E o seu colega, complementou, falando sobre as licitações. "Todo mundo fala que as licitações são a salvação. Mas ninguém fala de que licitação se quer. Não adianta nada licitar e ficar tudo como está", argumenta.

O presidente da CTB Guiomar Vidor se pronunciou parabenizando a luta dos rodoviários e dizendo ser importante que o movimento saia vitorioso. Fez ainda uma reflexão que esse movimento de base que impuslionou a greve deve ser capaz de eleger uma direção que de fato represente os interesses da categoria, diferente desta direção que foi desmoralizada.

A vereadora Jussara Cony pontuou que o principal responsável dessa crise no transporte público é o prefeito Fortunati. "A cidade cenográfica que ele pintou nas eleições ruiu em menos de um ano de gestão. A Carris, que era um modelo de transporte público, está sucateada. É preciso que, para além do atendimento da pauta dos rodoviários, se aprove um plano municipal de mobilidade urbana e se crie um conselho municipal das cidades", defendeu.

O representante da CNBB e fundador da União das Associações de Moradores de Porto Alegre Waldir Bohn Gass disse que a greve dos rodoviários demanda uma reflexão sobre a saturação do sistema de transporte público de Porto Alegre e acredita que o debate deva evolver toda a população para superar essa crise.

A reunião aprovou amplo apoio dos movimentos presentes a greve, com participação nos piquetes. O PCdoB realizará hoje (05/02) Plenária sobre crise dos transportes públicos às 19h na FECOSUL, para ajustar sua opinião e intervenção nesse tema na capital gaucha.