Por Igor Corrêa
Pereira*
A luta
política dos comunistas se qualifica com a concepção gramsciana de
hegemonia. Ela nos ajuda a entender o conceito contemporâneo de
Estado, que compreende todo o complexo
de atividades práticas e teóricas com as quais a classe dirigente
justifica e mantém não só seu domínio, mas consegue obter o
consentimento ativo dos governados.1
Quando Altamiro Borges2
diz reiteradas vezes que vitória eleitoral não significa
necessariamente conquista de hegemonia, referencia-se na concepção
de Gramsci.
Ganhamos
a eleição de 2003 mas não a hegemonia da sociedade. Ganhamos a
eleição, mas até que ponto conquistamos os corações e mentes da
geração compreendida entre 15 a 35 anos, que compõe 2/3 da
População Economicamente Ativa? Como bem destaca os textos para
debate do 3º Congresso da CTB3,
essa é a geração pós-queda do muro
de Berlim, criada sob o bombardeio ideológico neoliberal, em sua
pregação contra a esquerda, o socialismo, a política, o coletivo,
os partidos e os sindicatos. É essa geração que foi pra rua em junho, segundo pesquisa do IBOPE o perfil das ruas era jovem em sua maioria, e trabalhadora em sua maioria. Trata-se
de uma geração:
fortemente disputada pela imprensa golpista, pelas religiões
fundamentalistas conservadoras, por movimentos pós-modernos e muitas
vezes por ideologias daninhas, como o ecoimperialismo e a negação
do Brasil. São fortes barreiras à consciência de classe e podem
levar a derrotas dos trabalhadores e sindicalismo classista.
Em
entrevista concedida a edição 124 da Revista Princípios4,
o cientista político André Singer, ao analisar o momento atual do
país que caracteriza como "modelo lulista", desencadeado
com a vitória de Lula em 2003, ele faz um convite que penso muito
apropriado ao conjunto da esquerda:
Estamos vivendo um quadro confuso, ideologicamente diluído, e é
preciso pensar em como atuar nesse quadro. Atuar do ponto de vista da
luta hegemônica, não só da luta pelo poder, mas da luta pelos
corações e mentes. Pensar em como a esquerda possa voltar a ter um
trabalho de conscientização, que acho que foi interrompido - posso
estar enganado, porém acho que foi interropido.
Ganhar
corações e mentes, disputar a hegemonia da sociedade
Para saber
em que grau nossa luta pelo poder está se traduzindo em luta por
hegemonia, precisamos mensurar em que grau os eleitores de nossos
candidatos no legislativo e executivo são militantes em alguma
medida de pelo menos algum aspecto pela construção de um Novo
Projeto Nacional de Desenvolvimento. E para não ficar só no plano
institucional, trata-se de fazer o mesmo com quem vota em chapas
organizadas pelos comunistas em associações de bairro, sindicatos,
diretórios e gremios estudantis e demais organizações coletivas. É
certo que precisamos eleger vereadores, deputados, senadores,
prefeitos, governadores, presidência. Também precisamos dirigir
entidades do movimento social. Mas esse processo deve andar lado a
lado com a conscientização popular. Nossas vitórias eleitorais
devem abrir caminho para dialogarmos, mobilizarmos e angariarmos o
apoio consciente das pessoas. Para além de eleitores, precisamos de
cada vez mais militantes de ideias progressistas, que ajudem no
avanço de um projeto nacional de desenvolvimento.
Quando
partidos e sindicatos são hostilizados em manifestações de rua,
está aceso o sinal de alerta para a esquerda. Será que só negar
esses movimentos ajuda? Novamente recorrendo a Altamiro Borges, não
adianta reclamar que a moçadinha ta indo pra rua despolitizada,
porque não se joga na polítização, não adianta reclamar que a
pauta é difusa, porque não se joga em nortes bem definidos5.
Também não adianta só constatar que a mídia, ou mesmo o
imperialismo estão tentando agendar as ruas, porque eles sempre
fizeram isso. Trata-se de perguntar: o que nós estamos fazendo para
ganhar essa dura disputa?
Nesse
sentido cabe assinalar que as teses para o 13º Congresso pouco
desenvolvem um aspecto que me parece fundamental: a organização do
Partido. Quero nesses parágrafos finais situar a importância
estratégica da organização do partido entre os trabalhadores, e
dizer que não é possível pensar essa organização sem a dedicação
constante a tarefa de organizar a juventude trabalhadora. Os jovens
comunistas que atuam na UJS fazem um excelente trabalho entre os
estudantes, mas por várias razões temos perdido um enorme número
de quadros formados na escola de socialismo assim que entram no mundo
do trabalho. Considerando a atual quadra, é inadmissível perder
lideranças para a "vida". Quando um militante nosso que
organizamos lá na escola de ensino médio, ao se formar vai "cuidar
da vida", expressão aonde não cabe a dedicação a construção
do Partido, algo está muito errado.
Essa geração
pode jogar um papel importante para disputar a hegemonia entre os(as)
trabalhadores(as) na luta pelo socialismo. Por isso, as direções
partidárias devem dedicar especial atenção a nossa política de
quadros, devendo haver intensa sinergia entre o departamento de
quadros, a secretaria de juventude e a secretaria sindical. Nenhum
quadro do Partido, em especial os formados na juventude, deve ficar
sem tarefa. Bem orientados, jogarão importante papel na ampliação
de nossa influência por meio da CTB, a partir das categorias onde já
temos influência, como os comeriários, bancários, na educação e
saúde, na indústria, nos transportes e nos serviço publico em
geral, sem esquecer a agricultura familiar. Dependendo do correto
planejamento e orientação partidária, será possível preparar o
salto para um novo projeto de desenvolvimento de rumo socialista.
*Igor Corrêa
Pereira é membro do Coletivo Estadual de Formação e Propaganda do
PcdoB/RS.
1GRAMSCI,
Antonio – Cadernos do Cárcere
– volume 3, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, p. 331
2BORGES,
Altamiro - Seminário:crise de representatividade e renovação
da democracia- Gabinete digital- Governo Tarso Genro/2013
3CTB
– Textos para debate: Balanço da Secretaria Nacional da Juventude
Trabalhadora, 2013 págs. 53 a 55.
4GONZALEZ,
Claudio e MONTEIRO, Adalberto. “O lulismo abriu uma janela
histórica para a esquerda”. Revista Princípios Edição nº 124
abril/maio de 2013.
5BORGES,
Altamiro Pronunciamento na 11ª Plenária da Coordenação dos
Movimentos Sociais, julho de 2013.
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