Por Igor Corrêa Pereira*
Uma
década depois de decidir constituir um governo federal o PCdoB, partido do socialismo com um
programa que aponta o projeto nacional de desenvolvimento como caminho
para chegar em seu objetivo estratégico, convoca sua militância a fazer
um balanço e apontar perspectivas a partir dessa experiência singular.
Nossas teses já evidenciam o quanto é desafiante a missão histórica
de um partido contrahegemônico. A maré que decidimos enfrentar é a da
institucionalidade burguesa, hostil a projetos coletivos e candidaturas
oriundas da classe trabalhadora. Hostil a alternativa socialista, que
permanece ainda na defensiva estratégica.
Sem desanimar diante do tamanho do desafio, a valente esquadra
comunista não enjoou diante desse mar revolto. Procurou fortalecer seus
navios, aumentar e qualificar sua tripulação. Crescemos, apesar de tudo.
Persistimos, nove décadas após de nossa fundação no ano da semana da
arte moderna, ainda reivindicando a necessidade histórica da nossa
criação. Ainda persiste a justificativa da existência de um Partido
Comunista do Brasil.
Queremos mais que somente administrar o capitalismo, posto que não
somos mais uma tendência do Partido dos Trabalhadores. Também não nos
situamos na infantilidade da luta socialista, como as correntes do
esquerdismo que em nome de uma suposta estratégia socialista, na prática
muitas vezes auxiliam as forças conservadoras da sociedade. Mas quem
somos? O que devemos fazer para justificar na prática nossa existência
com uma identidade própria no seio da luta contemporânea da classe
trabalhadora?
A tática de diferenciação do PCdoB se expressou nos episódios
limites da experiência da última década. Quando a crise do mensalão
eclodiu, emergiu com força a decidida esquadra comunista que nas ruas
emplacou a lúcida chamada: "contra a desestabilização do governo Lula e
por uma reforma política democrática".
Agora, em meio ao 13º Congresso do PCdoB, evidencia-se os contornos
de um outro episódio limite, que teve como marco as manifestações de
junho. Conseguiremos novamente nos destacar? Teremos o protagonismo que
justifique a nossa existência histórica?
Novamente as teses partidárias parecem apontar um norte de ação
preciso. É acertada a convocação de "um grande bloco político no âmbito
dos parlamentos, nas esferas de governo, no seio dos movimentos sociais e
da intelectualidade". Esse bloco, denominado como "um grande bloco de
afinidades de esquerda" trata-se de uma chamada que já temos tentado
fazer emplacar nos episódios recentes das lutas das ruas. E aqui vai
minha reflexão pessoal sobre essa construção.
Quando decidimos criar a CTB junto com o PSB e outras forças
progressistas da classe trabalhadora, me arrisco a dizer que tenhamos
dado o salto mais bem sucedido na tática de ser força motriz das
mudanças nos marcos da não-ruptura com um governo de programa claramente
social-democrata. Pois tem sido hoje a CTB, junto a UNE e a UBES, as
forças sociais com capacidade de "colocar povo na rua" mais consequentes
no sentido de justificar nossa identidade.
O dia 11 de julho evidenciou isso. Quando a mídia golpista tentava
disputar a agenda das ruas, foi a decidida ação dos movimentos sociais,
tendo a CTB, a UNE e a UBES como linha de frente de um conjunto de
centrais e forças vivas dos movimentos sociais, que mudou o rumo dos
debates. Tanto que a presidenta Dilma em seu discurso pós-jornadas de
junho apresentou como agendas de ação pelo menos duas pautas que
apresentávamos desde 2005: reforma política e mais investimentos em
educação e saúde.
O sentimento que me leva a escrever essa análise é a da total
inconclusão desse episódio. Nada está definido, estamos diante de uma
encruzilhada histórica. Para avançar nas mudanças devemos continuar nos
empenhando na árdua tarefa da construção de um bloco de esquerda que
reúna as forças mais progressistas da sociedade no sentido da disputa da
hegemonia.
Aqui no sul a CTB e a UJS tem tido grande afinidade para propôr essa
construção. Propusemos recentemente uma Audiência Pública para debater o
Estatuto da Juventude e a reivindicação das juventudes organizadas na
Assembleia Legislativa do RS, e apesar de termos conseguido reunir 49
entidades representativas da juventude e movimentos sociais, precisamos
reconhecer que muito deve se avançar para que haja de fato um bloco de
esquerda com uma mínima coesão programática.
No entanto, parece claro que está em nós comunistas convocar essa
construção. Está em nós porque as forças sociais lideradas pelo PT estão
confusas, procuram uma aliança inviável com o esquerdismo e o
anarquismo. É preciso abrir os olhos da inviabilidade concreta dessa
construção. É nos marcos da Coordenação dos Movimentos Sociais que pode
ressurgir uma esquerda social com força e com projeto mudancista. São os
nossos deputados e vereadores os capazes de construir alianças no rumo
da ampliação da democracia. É apresentando claramente nossas ideias que
podemos repactuar alianças no seio da sociedade.
Estou cada vez mais convencido de que o modelo Lulista de
conciliação de classes está em vias de esgotamento. É preciso reforçar a
classe trabalhadora. E para isso, a tarefa que se impõe ao Partido
Comunista do Brasil é perseguir a tarefa árdua mas necessária de
construir um bloco de afinidade de esquerda capaz de alavancar mudanças
estruturais em nosso país.
*Igor Corrêa Pereira é secretario estadual de juventude da CTB/RS e
membro da comissão estadual de formação e propaganda do PCdoB/RS
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