quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O PCdoB e a missão histórica da construção de um bloco de esquerda

Ao PCdoB cabe a tarefa da construção de um grande bloco político de afinidade de esquerda no âmbito dos parlamentos, nas esferas de governo, no seio dos movimentos sociais e na intelectualidade, para avançar nas mudanças.
Por Igor Corrêa Pereira*

Uma década depois de decidir constituir um governo federal o PCdoB, partido do socialismo com um programa que aponta o projeto nacional de desenvolvimento como caminho para chegar em seu objetivo estratégico, convoca sua militância a fazer um balanço e apontar perspectivas a partir dessa experiência singular.

Nossas teses já evidenciam o quanto é desafiante a missão histórica de um partido contrahegemônico. A maré que decidimos enfrentar é a da institucionalidade burguesa, hostil a projetos coletivos e candidaturas oriundas da classe trabalhadora. Hostil a alternativa socialista, que permanece ainda na defensiva estratégica.

 

Sem desanimar diante do tamanho do desafio, a valente esquadra comunista não enjoou diante desse mar revolto. Procurou fortalecer seus navios, aumentar e qualificar sua tripulação. Crescemos, apesar de tudo. Persistimos, nove décadas após de nossa fundação no ano da semana da arte moderna, ainda reivindicando a necessidade histórica da nossa criação. Ainda persiste a justificativa da existência de um Partido Comunista do Brasil.
 

Queremos mais que somente administrar o capitalismo, posto que não somos mais uma tendência do Partido dos Trabalhadores. Também não nos situamos na infantilidade da luta socialista, como as correntes do esquerdismo que em nome de uma suposta estratégia socialista, na prática muitas vezes auxiliam as forças conservadoras da sociedade. Mas quem somos? O que devemos fazer para justificar na prática nossa existência com uma identidade própria no seio da luta contemporânea da classe trabalhadora?
 

A tática de diferenciação do PCdoB se expressou nos episódios limites da experiência da última década. Quando a crise do mensalão eclodiu, emergiu com força a decidida esquadra comunista que nas ruas emplacou a lúcida chamada: "contra a desestabilização do governo Lula e por uma reforma política democrática".
 

Agora, em meio ao 13º Congresso do PCdoB, evidencia-se os contornos de um outro episódio limite, que teve como marco as manifestações de junho. Conseguiremos novamente nos destacar? Teremos o protagonismo que justifique a nossa existência histórica?
 

Novamente as teses partidárias parecem apontar um norte de ação preciso. É acertada a convocação de "um grande bloco político no âmbito dos parlamentos, nas esferas de governo, no seio dos movimentos sociais e da intelectualidade". Esse bloco, denominado como "um grande bloco de afinidades de esquerda" trata-se de uma chamada que já temos tentado fazer emplacar nos episódios recentes das lutas das ruas. E aqui vai minha reflexão pessoal sobre essa construção.
 

Quando decidimos criar a CTB junto com o PSB e outras forças progressistas da classe trabalhadora, me arrisco a dizer que tenhamos dado o salto mais bem sucedido na tática de ser força motriz das mudanças nos marcos da não-ruptura com um governo de programa claramente social-democrata. Pois tem sido hoje a CTB, junto a UNE e a UBES, as forças sociais com capacidade de "colocar povo na rua" mais consequentes no sentido de justificar nossa identidade.
 

O dia 11 de julho evidenciou isso. Quando a mídia golpista tentava disputar a agenda das ruas, foi a decidida ação dos movimentos sociais, tendo a CTB, a UNE e a UBES como linha de frente de um conjunto de centrais e forças vivas dos movimentos sociais, que mudou o rumo dos debates. Tanto que a presidenta Dilma em seu discurso pós-jornadas de junho apresentou como agendas de ação pelo menos duas pautas que apresentávamos desde 2005: reforma política e mais investimentos em educação e saúde.
 

O sentimento que me leva a escrever essa análise é a da total inconclusão desse episódio. Nada está definido, estamos diante de uma encruzilhada histórica. Para avançar nas mudanças devemos continuar nos empenhando na árdua tarefa da construção de um bloco de esquerda que reúna as forças mais progressistas da sociedade no sentido da disputa da hegemonia.
 

Aqui no sul a CTB e a UJS tem tido grande afinidade para propôr essa construção. Propusemos recentemente uma Audiência Pública para debater o Estatuto da Juventude e a reivindicação das juventudes organizadas na Assembleia Legislativa do RS, e apesar de termos conseguido reunir 49 entidades representativas da juventude e movimentos sociais, precisamos reconhecer que muito deve se avançar para que haja de fato um bloco de esquerda com uma mínima coesão programática.
 

No entanto, parece claro que está em nós comunistas convocar essa construção. Está em nós porque as forças sociais lideradas pelo PT estão confusas, procuram uma aliança inviável com o esquerdismo e o anarquismo. É preciso abrir os olhos da inviabilidade concreta dessa construção. É nos marcos da Coordenação dos Movimentos Sociais que pode ressurgir uma esquerda social com força e com projeto mudancista. São os nossos deputados e vereadores os capazes de construir alianças no rumo da ampliação da democracia. É apresentando claramente nossas ideias que podemos repactuar alianças no seio da sociedade.
 

Estou cada vez mais convencido de que o modelo Lulista de conciliação de classes está em vias de esgotamento. É preciso reforçar a classe trabalhadora. E para isso, a tarefa que se impõe ao Partido Comunista do Brasil é perseguir a tarefa árdua mas necessária de construir um bloco de afinidade de esquerda capaz de alavancar mudanças estruturais em nosso país.
 

*Igor Corrêa Pereira é secretario estadual de juventude da CTB/RS e membro da comissão estadual de formação e propaganda do PCdoB/RS

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