segunda-feira, 18 de outubro de 2010

5º Guerrilha da Paz

5º Guerrilha da Paz: o mic na mão da periferia


O direito a voz, à comunicação. Esse direito humano que é desrespeitado num país onde meia dúzia de famílias tem o controle de 90% do meios de comunicação foi reivindicado e exercido sábado, dia 16 de outubro na escola Rômulo Zânchi, pelo CORAP (Coletivo de Resistência Periférica), na 5ª edição do Evento Guerrilha da Paz. Organizado pela arte educadora Flávia Sortica Giacomini (Falvinha Manda Rima), Igor da Rosa Gomes (MC Magrão), Gabriela Paines da Silva (Gabi BitBox), Vico, Taz , Luana, B. Negão e Zé, o Guerrilha foi um evento onde os quatro elementos do hip hop comandaram. O rap, o break, o grafite e até o DJ (mesa de som alugada), deram o tom das oficinas que envolveram estudantes e professores da escola, ativistas sociais como a ONG Life pela livre expressão sexual, Terreira Ilê Axé Ossanha Agué, o Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFSM, o Centro Marista de Insclusão digital (CMID), membros do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB) da UFSM, e integrantes da União da Juventude Socialista (UJS). O apoio da escola dirigida por Isa Cristina Barbosa Pereira e Tanier Botelho dos Santos foi essencial para que o evento acontecesse.

Oficinas culturais

A quinta edição do Guerrilha começou às 9h da manhã e durou o dia todo. Rolaram diversas oficinas, como as de skate, stancyl (modalidade do grafite), dança afro, fanzine, break, meta arte (reciclagem de lixo digital), rima de improviso, capoeira. Nelas a meninada da escola, os professores e visitantes como este humilde blogueiro, puderam ter contato com elementos da cultura popular, que tem muito da contribuição africana e indígena.


Educação para as relações étnico-raciais

Vale destacar a importante contribuição do NEAB, que fez uma oficina com os professores da escola sobre a Desconstrução do pensamento Racista do sociedade brasileira. Organizada pela Prof.ª Carmen Deleacil Ribeiro Nassar, do departamento de Letras da Universidade Federal de Santa Maria, a atividade se justifica no momento em que a lei que institui o ensino de história afrobrasileira nas escolas já se encontra próximo ao oitavo ano sem uma implementação adequada. “A África é o berço da civilização moderna, mas para justificar o escravismo colonial os europeus tiveram que ‘apagar’ toda a contribuição africana. Esse ideário racista eurocêntrico permanece entranhado no pensamento brasileiro e se reflete nas escolas. Espero que o trabalho que estamos fazendo hoje supere esse pensamento, mesmo que seja um trabalho de décadas”, relata Carmen.

Palco com energia e musicalidade

Para o fim, a energia e a musicalidade. Subiram ao palco o grupo de rock Variantes, além dos grupos de rap Conexão Zona Oeste, Admirável Minas Rap, Rima Suprema e Consciência Periférica. A atividade contou ainda com distribuição de brindes para pessoas do público que mostrassem elementos do hip hop, o que suscitou belas apresentações de break (dança típica do hip hop), além de meninos e meninas que “representaram” subindo ao palco para “soltar a rima” no free style (modalidade de rap improvisado). Destaque ainda para o protagonismo das mulheres, que além de grafitarem, ministrarem oficinas, subiram ao palco para cantar o rap, que para muitos é considerado uma atividade majoritariamente masculina.

Avaliação positiva

Para a arte-educadora e ativista do CORAP Flávia Sortica Giacomini, mais conhecida como "Flavinha Manda Rima", o evento foi um sucesso. "O protagonismo das mulheres foi o ponto alto. Tivemos o caso da Geisi que pela primeira vez subiu ao palco estreando no Rima Suprema, a Gabriela que ministrou oficina e mandou ver no Beat Box (arte de imitar o som de batidas com a boca), além da Prof.ª Carmen do NEAB, a Profª Jane da Escola Rômulo Zânchi que deu um apoio fundamental, a Luana que ministrou oficina de samba e soltou a rima no rap, a Marilda que representou o movimento LGBT da ONG Life. Mas não foram só elas. Também fica o agardecimento a Nei de Ogum, Ricardo Ossanha, Mila, Mestre Fabiano da capoeira, B. Negão que fez um belo show de beat box com a Gabi e a bateria do Variantes, Jean, Jonatas Blade e Mano Zé que protagonizaram na oficina de skate, Vico que realizou oficina também, André do CMID Vagner e Alessandro, o Tiago da revista O Viés do curso de jornalismo da UFSM... Sem palavras, o Guerrilha está de parabéns, resume".

O 5º Guerrilha da Paz cumpriu seu principal objetivo: proporcionar o direito de expressão de uma parcela da juventude santa-mariense que, como diz a música, “sempre quis falar”, mas nunca teve chance. Se a tevê não leva o jovem a sério, o Guerrilha demonstrou que os próprios jovens estão se levando a sério. Com “mic” (abreviação de microfone) na mão, a periferia está cada vez mais afirmando sua dignidade.

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4 comentários:

Anônimo disse...

igor esqueceu de citar o nome do do graffiteiro que deu a oficina... vico, alem disso o co-rap não se materialisa somente nas figuras do igor, gabi e flavinha,´pois o mesmo não possui uma direçao, como o proprio nome diz, é coletivo...então o correto seria citar todos os organizadore do evento: igor, gabi, flavia, zé(czo), taz(czo), luana(czo), jean(czo) b negão, vico, maninho... todos tem a mesma importancia e não mediram esforços para a realização do evento e divulgação da cultura hip hop.
um abraço... vico

Igor de Fato disse...

Correto Vico, a modificação será feita.

Tiago Miotto disse...

Fico grato pela menção, cara.

Se quiser conferir a reportagem que fiz sobre o Guerrilha da Paz, a tua entrevista inclusa, acabou de entrar no ar.
Tem ainda uma cobertura sobre a questão das passagens em Santa Maria e sobre a X Parada GLBT de Pelotas.

www.revistaovies.com

Abraço.

Letícia Prates disse...

Perfeito Igor, muito bom poder reler sempre a história do CORAP que é contada por pessoas que também são importante neste processo. Guerrilha da paz é um dos eventos mais importante do CORAP e hoje esta na sua 16º edição e segue resistindo, muito importante pra nós pra periferia pras escolas pra cidade esse viés da cultura com educação, estão tod@s de parabéns vida Longa ao hip hop ao CORAP e a todos nós.