O novo e o velho Brasil coexistem
Estamos na reta final da campanha, mas nessa manhã eu fiz uma paradinha para pensar um pouco nesse momento que o país vive. É um momento novo, um momento de mudança. E como bem reflete Renato Rabelo, "para o novo surgir e crescer, sempre surge entranhado com o velho". Essa análise é importante para que a gente não se perca e fique sem entender o que está acontecendo.
Tem muita gente que está na turma dos "desiludidos" porque não está entendendo isso. Muitos dos que votaram em Lula em 2002 hoje não votam em Dilma, porque acham que Lula os traiu, baseados nos escândalos do suposto mensalão. Os factóides de corrupção que pulularam na mídia nas eleições de 2006, somados a política econômica de juros altos que privilegia os banqueiros foram um baque para um importante extrato da classe média que se considerou "enganada" . É nessa classe média que está fundamentalmente a base eleitoral de partidos midiáticos como PSOL de Heloísa Helena, e o próprio PV de Marina Silva.
Em 2006, sob ataques raivosos da imprensa empresarial (Globo, Veja, Folha, etc) aliados às vociferações do setor radicalizado da classe média que teve em Heloísa Helena sua melhor porta-voz, Lula mesmo assim resistiu e foi reeleito. Por que? No momento em que a classe média, antes eleitora de Lula, em parte o abandonou, ele foi sustentado por dois extratos da população que antes o apoiavam bem menos: os ricos (industriais, banqueiros, etc) e a população mais pobre, beneficiada pelo Bolsa Família, entre outras políticas.
Essa mudança do eleitorado de Lula reflete uma mudança importante. Os quatro anos iniciais de Lula, caracterizados por uma manutenção dos juros altos aliada às políticas sociais de distribuição de renda criou essa base eleitoral dual.
No Nordeste, onde Lula tem 80% de popularidade, e onde a pobreza é mais intensa, o cenário eleitoral apresenta aspectos curiosos dessa dualidade. Vale destacar Pernambuco e Bahia, onde Eduardo Campos, do PSB, e Jaques Wagner, do PT, estão disparados nas pesquisas das eleições dos governos estaduais, com grandes chances de vitória, representando uma derrota histórica para o coronelismo. No mesmo Nordeste, no Maranhão, a candidata das oligarquias Roseana Sarney é a favorita para a vitória, com o apoio constrangido do PT. Como se vê, a vitória do "novo" em Pernambuco e Bahia pode vir acompanhada da vitória do "velho" no Maranhão.
Conversando com amigos que estiveram no Nordeste, pude ter visões das mudanças que estão acontecendo naquela região. A transposição do Rio São Francisco, aliada às obras do PAC e ao Bolsa Família, estão gerando empregos, levando luz e água para populações que antes tinham acesso precário a esses bens essenciais. Trata-se de um massivo movimento de melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas que antes não tinham o básico do básico: água, comida, luz, emprego decente. Essa é a camada mais intensamente grata a Lula.
Um relato de um nordestino me chamou atenção a respeito disso. Ele me disse que várias pessoas do sul, onde a classe média é mais representativa, acham que os nordestinos são "alienados", que foram "comprados" pelo Bolsa Família. Ele argumenta que essa é uma ideia preconceituosa que a classe média têm dos mais pobres. Acham que os pobres são "burros", sempre massa de manobra.
Ele explicou que os nordestinos pobres sempre souberam que eram explorados pelos coronéis e em grande parte sempre votaram neles, não por serem enganados, mas porque isso lhes garantia minimamente a sobrevivência com as esmolas dadas em troca da permanência no Poder. Mesmo que a esquerda dissesse ao sertanejo pobre que deveria se revoltar por sua pobreza, a dureza da vida severina lhes fazia aceitar calado sua exploração, porque para quem está na miséria, fica difícil projetar grandes projetos de mudança, se pensa em ter um prato de comida para si e para a família.
O Bolsa Família rompeu com o ciclo do coronelismo porque mostrou ao sertanejo concretamente que é possível uma política pública que o permita segurança alimentar sem depender do coronel. Permitiu que o sertanejo pobre tivesse a dignidade de recusar a esmola do coronel. O povo nordestino é eternamente grato ao filho de Garanhuns, e por isso apóia a "Mulher de Lula". Entender esse apoio como "renovação do coronelismo" é desrespeitar a posição política de uma classe que tomou uma decisão legítima em defesa de seus interesses, a despeito da tentativa de manipulação da mídia.
Voltando ao pensamento de Rabelo, "para o novo surgir e crescer, sempre surge entranhado com o velho". Para entender o momento em que vivemos, esse pensamento é essencial.
O Brasil vive seu melhor momento desde a redemocratização, com indicadores sociais consideráveis: 12 milhões de empregos gerados, 27 milhões de pessoas saídas da linha da pobreza, 14 universidades federais novas, milhares de concursos públicos, vagas novas nas universidades, salário mínimo de 300 dólares, a valorização da PETROBRAS. Mas essa novidade surgiu emaranhada no "velho", que representa os juros e os altos lucros dos banqueiros, a manutenção de focos de poder das oligarquias nos meios de comunicação, no sistema político, na estrutura urbana e rural. Dilma, se eleita, fará uma gestão marcada por essa dualidade entre o "novo", que é a emergência da população mais pobre, e o "velho" que é a manutenção dos privilégios da burguesia financeira.
Para colaborar na vitória do novo, a luta será permanente. No entanto, sem clareza de projeto para o país, a luta pode se dar de maneira atabalhoada, atacando muitas vezes inimigos imaginários. Boa parte da classe média está sem projeto de Nação, presa num discurso vazio da ética, da desvalorização da política, do desencanto com o mundo e com o país. Esse setor "desiludido" da classe média teria muito a contribuir com o país se olhasse com solidariedade para o fenômeno novo da conquista da cidadania de milhões de pessoas que estão saindo da miséria, conquistando empregos, entrando nas universidades.
Se a classe média se alia com a classe baixa, o governo poderá ter força para desamarrar nós que parecem cegos, como a reforma tributária com taxação progressiva, desonerando os mais pobres e onerando os mais ricos, a reforma política com financiamento público exlusivo e voto em lista, a reforma urbana que garanta o acesso de todos a cidade, a reforma agrária com a distribuição de terras, a democratização dos meios de comunicação.
A classe média tem em suas mãos uma oportunidade histórica. Basta saber se estará a altura de sua responsabilidade com o país de contribuir para o novo triunfar sobre o velho na construção de uma nação forte, com democracia e distribuição de renda.
Tem muita gente que está na turma dos "desiludidos" porque não está entendendo isso. Muitos dos que votaram em Lula em 2002 hoje não votam em Dilma, porque acham que Lula os traiu, baseados nos escândalos do suposto mensalão. Os factóides de corrupção que pulularam na mídia nas eleições de 2006, somados a política econômica de juros altos que privilegia os banqueiros foram um baque para um importante extrato da classe média que se considerou "enganada" . É nessa classe média que está fundamentalmente a base eleitoral de partidos midiáticos como PSOL de Heloísa Helena, e o próprio PV de Marina Silva.
Em 2006, sob ataques raivosos da imprensa empresarial (Globo, Veja, Folha, etc) aliados às vociferações do setor radicalizado da classe média que teve em Heloísa Helena sua melhor porta-voz, Lula mesmo assim resistiu e foi reeleito. Por que? No momento em que a classe média, antes eleitora de Lula, em parte o abandonou, ele foi sustentado por dois extratos da população que antes o apoiavam bem menos: os ricos (industriais, banqueiros, etc) e a população mais pobre, beneficiada pelo Bolsa Família, entre outras políticas.
Essa mudança do eleitorado de Lula reflete uma mudança importante. Os quatro anos iniciais de Lula, caracterizados por uma manutenção dos juros altos aliada às políticas sociais de distribuição de renda criou essa base eleitoral dual.
No Nordeste, onde Lula tem 80% de popularidade, e onde a pobreza é mais intensa, o cenário eleitoral apresenta aspectos curiosos dessa dualidade. Vale destacar Pernambuco e Bahia, onde Eduardo Campos, do PSB, e Jaques Wagner, do PT, estão disparados nas pesquisas das eleições dos governos estaduais, com grandes chances de vitória, representando uma derrota histórica para o coronelismo. No mesmo Nordeste, no Maranhão, a candidata das oligarquias Roseana Sarney é a favorita para a vitória, com o apoio constrangido do PT. Como se vê, a vitória do "novo" em Pernambuco e Bahia pode vir acompanhada da vitória do "velho" no Maranhão.
Conversando com amigos que estiveram no Nordeste, pude ter visões das mudanças que estão acontecendo naquela região. A transposição do Rio São Francisco, aliada às obras do PAC e ao Bolsa Família, estão gerando empregos, levando luz e água para populações que antes tinham acesso precário a esses bens essenciais. Trata-se de um massivo movimento de melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas que antes não tinham o básico do básico: água, comida, luz, emprego decente. Essa é a camada mais intensamente grata a Lula.
Um relato de um nordestino me chamou atenção a respeito disso. Ele me disse que várias pessoas do sul, onde a classe média é mais representativa, acham que os nordestinos são "alienados", que foram "comprados" pelo Bolsa Família. Ele argumenta que essa é uma ideia preconceituosa que a classe média têm dos mais pobres. Acham que os pobres são "burros", sempre massa de manobra.
Ele explicou que os nordestinos pobres sempre souberam que eram explorados pelos coronéis e em grande parte sempre votaram neles, não por serem enganados, mas porque isso lhes garantia minimamente a sobrevivência com as esmolas dadas em troca da permanência no Poder. Mesmo que a esquerda dissesse ao sertanejo pobre que deveria se revoltar por sua pobreza, a dureza da vida severina lhes fazia aceitar calado sua exploração, porque para quem está na miséria, fica difícil projetar grandes projetos de mudança, se pensa em ter um prato de comida para si e para a família.
O Bolsa Família rompeu com o ciclo do coronelismo porque mostrou ao sertanejo concretamente que é possível uma política pública que o permita segurança alimentar sem depender do coronel. Permitiu que o sertanejo pobre tivesse a dignidade de recusar a esmola do coronel. O povo nordestino é eternamente grato ao filho de Garanhuns, e por isso apóia a "Mulher de Lula". Entender esse apoio como "renovação do coronelismo" é desrespeitar a posição política de uma classe que tomou uma decisão legítima em defesa de seus interesses, a despeito da tentativa de manipulação da mídia.
Voltando ao pensamento de Rabelo, "para o novo surgir e crescer, sempre surge entranhado com o velho". Para entender o momento em que vivemos, esse pensamento é essencial.
O Brasil vive seu melhor momento desde a redemocratização, com indicadores sociais consideráveis: 12 milhões de empregos gerados, 27 milhões de pessoas saídas da linha da pobreza, 14 universidades federais novas, milhares de concursos públicos, vagas novas nas universidades, salário mínimo de 300 dólares, a valorização da PETROBRAS. Mas essa novidade surgiu emaranhada no "velho", que representa os juros e os altos lucros dos banqueiros, a manutenção de focos de poder das oligarquias nos meios de comunicação, no sistema político, na estrutura urbana e rural. Dilma, se eleita, fará uma gestão marcada por essa dualidade entre o "novo", que é a emergência da população mais pobre, e o "velho" que é a manutenção dos privilégios da burguesia financeira.
Para colaborar na vitória do novo, a luta será permanente. No entanto, sem clareza de projeto para o país, a luta pode se dar de maneira atabalhoada, atacando muitas vezes inimigos imaginários. Boa parte da classe média está sem projeto de Nação, presa num discurso vazio da ética, da desvalorização da política, do desencanto com o mundo e com o país. Esse setor "desiludido" da classe média teria muito a contribuir com o país se olhasse com solidariedade para o fenômeno novo da conquista da cidadania de milhões de pessoas que estão saindo da miséria, conquistando empregos, entrando nas universidades.
Se a classe média se alia com a classe baixa, o governo poderá ter força para desamarrar nós que parecem cegos, como a reforma tributária com taxação progressiva, desonerando os mais pobres e onerando os mais ricos, a reforma política com financiamento público exlusivo e voto em lista, a reforma urbana que garanta o acesso de todos a cidade, a reforma agrária com a distribuição de terras, a democratização dos meios de comunicação.
A classe média tem em suas mãos uma oportunidade histórica. Basta saber se estará a altura de sua responsabilidade com o país de contribuir para o novo triunfar sobre o velho na construção de uma nação forte, com democracia e distribuição de renda.
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